Transcreveu, assentindo com o conteúdo, o AAA esta frase do RAF:
«O anticlericalismo é isso: uma forma de fanatismo que cega mesmo aqueles que pensam que viram a Luz... »
É exactamente o inverso: o anti-clericalismo, numa cultura impregnada com o ar bafiento de sacristia como é a nossa, nada mais é do que uma forma sã e desempoeirada de abrir a janela da razão e conseguir respirar ar puro e, sobretudo, de combater o atrofiamento cerebral que colectivamente nos ataca há tanto tempo. Ora, acontece que o clericalismo - entendido como a devoção pela máquina administrativa que detém posição dominante no mercado das crenças, bem como a quase-adoração idólatra pelos seus agentes in personna - vivifica precisamente nesses ambientes intelectualmente entupidos.
Donde, o anti-clericalismo é um esforço válido de romper a má tradição do estado abúlico em que os portugueses estão submersos.
E nunca será fanatismo porque não conheço qualquer posição anti-clericalista que reivindique ter «visto a Luz». Esta imagem não faz nenhum sentido - quem julga ver "luzes" e ouvir "vozes" são os que pretendem encontrar em qualquer acaso um milagre e em qualquer cura uma intervenção divina, i. e. os devotos das crenças atreitos ao amor clerical.
Os anti-clericalistas só querem a boa separação das águas entre as crenças dos outros e as sua próprias vidas, entre o sagrado e o profano. No fundo, só desejam que os servos dos auto-intitulados intermediários com o divino os deixem em paz.
E ao contrário destes, nada pretendem impor, antes fazer pensar para melhor se poder optar.