Os conflitos entre Suha Arafat e os dirigentes da OLP são claramente motivados pelo desejo de garantir a titularidade da colossal herança financeira do milionário ontem falecido. Suha quer o dinheiro para manter, pelo menos, o luxuoso nível de vida a que se habituou em Paris; a liderança da OLP quer deitar as mãos a essa fortuna porque tem um país para construir.
Mas há uma terceira entidade neste enredo: a França. É um Estado reputado pela sua hipocrisia, cujos interesses estão acima de qualquer outra raison, e que, nestas últimas semanas de vida de Arafat, teve uma intervenção geradora das maiores perplexidades.
Quando me ponho a pensar nesta equação vem-me à memória uma velha história contada há décadas nas faculdades de direito e que se transformou numa graça repetida nos escritórios de advocacia. Ter-se-á passado no princípio do século passado com um advogado de Barcelos que fazia, também, as vezes de patrono do seu filho, recém-licenciado em direito:
"Certo dia entrou no escritório do advogado um agricultor que reivindicava a propriedade de uma vaca cuja posse teria sido, alegadamente, usurpada por um vizinho. Depois de ouvir atentamente a história, o advogado garantiu:
- Esteja descansado que eu vou tratar do caso. Vá para casa que a vaca é sua.
Algumas horas depois o referido vizinho surgiu perante o advogado e o seu filho contando a sua versão da «história da vaca».
Com o mesmo ar circunspecto, o advogado asseverou:
- Vá descansado que o assunto está nas minhas mãos. E não pense mais nisso: a vaca é sua!
Pasmado, o jovem advogado estagiário perguntou ao pai como era possível que a lei oferecesse a vaca aos dois vizinhos. Mas, afinal, de quem era a bendita vaca?
O velho advogado de Barcelos terá sorrido da inexperiência do filho:
- Oh rapaz, ainda és muito verde nisto: a vaca é NOSSA!"
Não me espantaria que, no fim desta trapalhada toda, a amiga pressurosa do povo palestiniano, a nação francesa, abocanhasse gulosamente parte substancial do dinheiro em disputa.
