16.11.04

Os pedintes

O vereador das actividades Económicas do Porto propôs um regulamento que permite aos estabelecimentos comerciais funcionarem em horários entre as 06.00 e as 24.00. Medida que me merece o aplauso, uma vez que permitirá, aos bons empresários, adequar o funcionamento dos seus estabelecimentos a diferentes públicos, com diferentes necessidades e interesses.
Mas eis que o veredador comunista Rui Sá vem manifestar-se contra, uma vez que «dados os problemas que actualmente vive o comércio tradicional, a estratégia deveria passar pela concepção de planos integrados». Não é portanto com os consumidores, com o povo que o vereador está preocupado, nem sequer com os trabalhadores. A sua preocupação é o pequeno patronato. O presidente da Associação Comercial do Porto defende uma ideia intermédia: apenas um dia por semana e actividades culturais que atraíssem as pessoas ao comércio tradicional. Eventos certamente pagos pelos contribuintes, supõe-se. A Laurinha, dos «outros» comerciantes também está em desacordo. O PS «anunciou, no final da semana passada, a intenção de solicitar o adiamento da votação do documento, alegando a falta de audição das estruturas sindicais e associação de comerciantes». Também aqui não se fala do «povo», dos consumidores, embora às preocupações com o patronato se acrescentem os trabalhadores.
Estes aparelhos partidários e suas variantes não conseguem verdadeiramente pensar e agir fora dos grupos de interesses organizados e esclerosados.
A questão essencial é a de saber se o alargamento de abertura e fecho dos estabelecimentos trará vantagem para as pessoas. Parece-me óbvio que sim, por questões de comodidade e por razões dos tempos de trabalho e lazer. E trazendo vantagem para as pessoas, certamente estas irão utilizar mais os estabelecimentos que melhor se adaptem ao gostos e preferências dos consumidores, obtendo maior rentabilidade. Os que o não fizerem continuarão queixosos, esperando programas Urbcom, ajudas estatais, protecccionismo contra os concorrentes e outros eteceteras.
Em que é que os comerciantes poderão ser prejudicados por poderem abrir e encerrar o seus tabelecimentos de acordo com as preferências/frequências dos seus clientes? Não dá para entender. E é pena ver uma cidade que em tempos teve orgulhosamente pergaminhos liberais, ter actualmente à frente das duas associações comerciais pessoas tão conservadoras, tão retrógadas, tão protecccionistas, enfim, tão pouco empresárias. Uns pedintes.