22.4.05

Liberdade e monoteísmo

As ideias liberais de tolerância e de liberdade de religião e de expressão são uma consequência da (ou pelo menos compatível com) ideia de um Deus único. A partir do momento em que todos acreditam que só há um Deus, a ideia de que só há uma verdade torna-se natural. No entanto, nenhum Homem pode impôr essa verdade aos outros, porque a verdade é estabelecida por Deus. Embora possa demorar algum tempo, duas ideias importantes acabarão por ser compreendidas. Por um lado, nenhuma facção pode estar segura de deter a verdade e a busca da verdade terá que ser permanente porque, não havendo certezas, só aqueles que se aproximam de Deus se aproximam da verdade. Por outro lado, aqueles que descobrem a verdade pelos seus próprios meios têm mais mérito que aqueles que são forçados pelos mais poderosos a adoptar uma determinada posição.

Numa sociedade monoteísta, Deus é uma solução imparcial para a Tragédia dos Comuns. As ideias minoritárias ou impopulares são toleradas, não porque se pense que todas as ideias são iguais, mas porque só Deus poderá decidir com imparcialidade quem tem razão. A liberdade de religiosa é aceite, não porque se pense que todas as religiões são iguais, mas porque a adesão à verdadeira fé tem mais mérito se for voluntária do que sob coerção.

Pelo contrário, numa sociedade politeísta, cada Homem tem o seu Deus, o que significa que cada Homem terá a mesma legitimidade para se reclamar dono da verdade, independentemente dos factos ou do uso da razão. E sendo assim, os conflitos são inevitáveis porque não existe nenhum árbitro imparcial acima dos Homens.

Numa sociedade moderna em que já poucos acreditam em deuses, as coisas podem complicar-se e é por isso que a ideia de verdade absoluta deve ser preservada.