23.8.05

Já não há vergonha. Antes o Rei andasse nú, que ainda assim se apresentava de uma forma mais decente aos olhos do Povo

Vale a pena ler esta notícia de , no DE, a "As ligações de Vara a Sócrates".

Destaco a seguinte passagem:

«(...) Politização da Caixa Geral de Depósitos? ?Tenho 22 anos de CGD. Há quatro anos regressei. Não vejo onde é que isso possa ser uma politização?, responde Armando Vara ao DE, recusando fazer mais comentários (...)».

A nomeação de Armando Vara é a mais escandalosa partidarização das empresas públicas de que há memória em Portugal. Um país onde o Primeiro-Ministro coloca o critério da «amizade» - isto, como cenário mais benigno - como fundamento de escolha de administradores de empresas, onde uma pessoa da craveira do antigo Presidente da CMVM, entidade reguladora dos mercados de capitais, Teixeira dos Santos, que andou nos últimos cinco anos - e bem - a promover regras de "transparência" para as empresas cotadas, se sujeita a um frete desta natureza, então batemos no fundo.

Esta não é uma questão ideológica, de "direita" ou "esquerda": é, mais, um problema de seriedade, bom-senso, gestão decente da coisa pública.

O mais grave é que dificilmente se compreende uma nomeação destas ao abrigo de uma pretensa amizade entre José Sócrates e Armando Vara, como poderemos ser tentados a pensar. Ninguém tem amigos assim, que coloquem em xeque toda a reputação de um governo já fortemente contestado pelas medidas anteriormente tomadas. Gostava mesmo de saber o que levou José Sócrates a nomear Armando Vara.

E não me falem em 22 anos de ligação à CGD. Com esta afirmação, Armando Vara demonstrou não ter idoneidade para integrar o Conselho de Administração de uma instituição financeira, onde este tipo de "espertices" não fazem parte do "métier": Armando Vara tem uma experiencia bancária limitada, tendo dedicado toda a sua vida à política, suspendendo a sua curta actividade profissional numa pequena agência logo no início da sua carreira. À CGD regressou em 2001, depois de brincar às Fundações, para ocupar o já de si indecoroso lugar de Director-Coordenador da Direcção de Segurança (!) - gostava de saber quem decidiu semelhante alarvidade - a sua grande especialidade (sobretudo a rodoviária); vai ser agora administrador responsável pelas participações financeiras (!). Tentar resguardar-se com uma mera ligação contratual demonstra de que "massa" é feito.

Percebo bem o desalento que sentem hoje os milhares de trabalhadores bancários da CGD, ao verificarem que a instituição com que colaboram vive sistematicamente ao sabor de caprichos do poder político, e não da consagração do mérito. De que adianta estudar, trabalhar arduamente, horas a fio, especializar-se, fazer MBA's caros no estrangeiro nas melhores universidades do mundo, Pós-Graduações em Finanças ou noutras matérias de relevo, se qualquer Dux Veteranorum com ligações políticas, "especialista" em Segurança, claramente o core business da CGD, os pode ultrapassar? Infelizmente, muitos deles não podem falar, pois têm famílias para alimentar. Alguns até vão ter de ser os administradores de facto, para que a CGD possa continuar a ser uma instituição sólida, apesar dos devaneios e delírios de quem nos desgoverna.

Não sei já o que dizer. José Sócrates é hoje a face mais visível da arrogância de quem se apoderou do poder político e da coisa pública, e se limita a geri-la em benefício próprio e dos seus. Convido todos os nossos leitores a manifestarem aqui a sua indignação.

Rodrigo Adão da Fonseca

P.S. Não vi a Ana Gomes revoltar-se contra a nomeação de Armando Vara para a CGD. Ou não merecerá este belo acto de gestão - e que tem, ao contrário dos fogos, responsáveis directos a quem assacar responsabilidades - a classificação de "inundação de incompetência, desorganização, ganância negocial e compadrio"? Como é?