25.8.05

Mais uma vez, o custo de oportunidade

Escreve Vital Moreira:

Passados vários dias, por que é que os activistas da LCGIPT (Liga Contra os Grandes Investimentos Públicos em Transportes) ainda não se pronunciaram sobre estas importantes reflexões de um reputado especialista independente (Marvão Pereira) acerca do impacto positivo de tais investimentos? Só dão conta do que vai ao encontro dos seus próprios pontos de vista pré-formados?


Marvão Pereira na entrevista ao Expresso diz que:

1. A Ota terá um impacto económico positivo;

2. Os impostos gerados pela Ota pagam a Ota numa dezena de anos;

Tudo isto é irrelevante porque o que interessa é o custo de oportunidade. O que interessa saber é se:

1. a Ota tem um impacto económico superior aos investimentos que os agentes económicos farão se não tiverem que investir na Ota. Marvão Pereira não faz esta análise. Limita-se a dizer que a Ota tem um impacto positivo, mas não diz em relação a quê.

A Ota terá um impacto económico positivo em relação a que alternativa? Qual é a opção zero? Marvão Pereira não diz. A Ota não vai sair do nada. Tem um custo de oportunidade. Aliás, se a Ota tem em abstracto um impacto positivo, se não é preciso comparar a Ota com as alternativas, porque raio é que não se fazem duas Otas?

2 Os impostos gerados pela Ota podem pagar a Ota numa dezena de anos, mas a verdade é que a Portela gera grande parte desses mesmos impostos sem que o estado tenha que investir verbas comparáveis com as que vão ser investidas na Ota. Mais uma vez, Marvão Pereira não faz esta análise. Não nos diz em quantos anos se paga a opção Portela+1. Mas não é necessário um génio em economia para perceber que a opção Portela+1 se paga em menos anos que a opção Ota.

Para além disso, o capital não investido na Ota será investido em projectos mais produtivos, aqueles virados para a exportação de que tanto se fala, e esse investimento gerará sempre impostos equivalentes aos que a Ota geraria.

O que interessa portanto, não é saber em quantos anos se paga a Ota, mas saber se a Ota é o investimento com mais rentabilidade. Ora, existe um tipo de actividades que geram muito mais impostos que a Ota. São as actividades desempenhadas pelas empresas privadas, onde o estado não investe um tostão, mas que geram a quase totalidade das receitas do estado.

PS - A construção dos estádios do Euro 2004 também teve um impacto positivo na economia quando comparada com o impacto que teria a não utilização dos recursos usados para os construir. Mas isso não quer dizer que o investimento no Euro tenha sido a melhor aplicação desses recursos.