«É óbvio que nada mina mais a democracia que a corrupção. Mas falar da forma como o vereador do Porto fala acerca da corrupção, sem apresentar provas, é igualmente um péssimo serviço à democracia»
Este país parece marinar na fábula (aparentemente) infantil d' "O Rei vai nu".
Todos os que se preocupam com a política interna sabem como se dá o financiamento dos partidos.
Conhecem as promiscuidades entre os aparelhos partidários e os interesses imobiliários.
Constatam a irracionalidade urbanística que atrofia tudo e todos.
Todos criticam os suspeitos enredos burocráticos das nossas autarquias, atacam os expedientes ilegítimos que o poder local que temos obriga o cidadão comum a recorrer e que o tempo transformou no seu modo normal de ser e estar.
Todos sabem e todos falam - desde que o façam baixinho, bem entendido!
Quando alguém, farto de cumplicidades tácitas, ousa dizer que as coisas são como todo a gente vê que estão, surge o falso assombro e a irritação bem comportada.
Agora, os mesmos que fingiram não enxergar a "nudez real", querem provas, documentos, datas, recibos, contas bancárias, eventualmente gravações áudio e vídeo.
Não percebem, pelo menos os que estão de boa fé, que esse tipo de exigências, no contexto temporal em que são feitas, fazem o jogo ideal dos agentes e beneficiários da corrupção.
Aqueles que berram por «casos concretos» não alcançam que não é a revelação mais ou menos bombástica de 3 ou 4 casos que vai pôr um fim ao actual estado de coisas - pelo contrário, o mais provável é que esse tipo de "caxas" sirva precisamente para branquear uma realidade demasiado conspurcada (como o recente desfecho do caso Cruz Silva veio demonstrar, para já não falar de Fátimas, Avelinos, Isaltinos, etc.).
Para quem quiser mudar verdadeiramente este panorama, neste momento, verdadeiramente importante é:
- Apreender o que está mal num sistema que permite que sejam as pressões imobiliárias a escolher, nem que seja pela força do veto, directa ou indirectamente, a composição das listas das autarquias;
- Descobrir como impermeabilizar o modo de funcionamento das autarquias às perigosas necessidades do financiamento partidário.