Todos aqueles que querem mais estado na questão dos fogos florestais deviam meditar no que o estado tem feito para resolver o problema. Em 2004-2005 o estado gastou 18 milhões de contos em prevenção que beneficiam essencialmente interesses privados. Entre 1994 e 2004 o estado gastou 50 milhões de contos no reequipamento dos bombeiros que, coitados, têm sempre falta de meios.
Só desde 1999 foram gastos 9 milhões de contos a reflorestar 260 mil hectares de floresta, apesar de ser óbvio para todos que quem recebe estes subsídios não terá capacidade financeira nem interesse económico em tratar do que foi plantado. Não adianta pedir mais estado quando tem sido precisamente o estado que tem fomentado a plantação de árvores que estão condenadas a arder. A plantação de árvores em Portugal é uma verdadeira lotaria em que o estado compra os bilhetes para distribuir pelos proprietários. Os mapas publicados na última edição do Expresso mostram claramente que em 15 anos a probabilidade de uma plantação do centro e do norte do país arder pelo menos uma vez deve ser bem superior a 70%. O preço da madeira está estagnado há anos, enquanto tudo o resto subiu, o que mostra que há excesso de oferta. Apesar de a exploração floretal não ser económica, apesar de ser até perigosa, o estado continua a incentivá-la.
Por outro lado, os registos de propriedade, uma função essencial do estado, continuam por fazer, o que impede a venda e a consolidação da propriedade, a floresta do estado arde como as outras, as câmaras municipais continuam a ignorar a lei e não limpam o que é suposto que limpem e os serviços centrais do estado não fiscalizam o que têm a fiscalizar. Apesar de o estado ter feito mal aquilo que é da sua responsabilidade, ainda há quem queira mais estado.