19.10.05

As raposas à solta são um perigo, vamos prendê-las no galinheiro

Luís Raínha caracteriza correctamente o argumento da mão invisível. São os interesses egoístas dos agentes económicos que, sem o pretenderem, criam a ordem espontânea que é a economia. Mas depois para provar que tal não pode ser verdade diz que os empresários não são altruístas, que fogem ao fisco, que são ambiciosos ... Ora, não se pode refutar o argumento da Mão Invisível alegando que as pessoas são egoístas. O argumento baseia-se precisamente no facto de as pessoas serem egoístas.

Nem se pode refutar o argumento indo buscar exemplos de mercados altamente regulados pelo estado como o mercado dos medicamentos e o mercado das redes de telemóvel. Os concursos públicos de compra de medicamentos podem ser manipulados por um cartel precisamente porque os directores hospitalares não estão a defender os seus interesses próprios mas supostamente o interesse público. As tarifas das chamadas dos telemóveis podem ser manipulados porque o número de licenças é limitado por decisores políticos que não estão a defender os seus interesses próprios mas supostamente o interesse do público.

Infelizmente, o LR não faz uma análise comparativa. Diz que o sector privado tem pessoas desonestas, mas não compara o sector privado com o sector público, nem nos diz como é que o sector público transforma pessoas desonestas em pessoas honestas. O LR quer convencer-nos que um sistema em que as responsabilidades são colectivas funciona melhor com pessoas desonestas do que um sistema em que as responsabilidades são privadas. No fundo, o que o LR está a dizer é que as pessoas são egoístas, desonestas e ambiciosas, pelo que essa coisa do mercado não funciona. O melhor é a gente pegar nessas pessoas egoístas, desonestas e ambiciosas e metê-las a ministro, secretário de estado, director geral ou funcionário público.

(a propósito ver este post do Miguel no Insurgente)