7.10.05

CONSEQUÊNCIAS ELEITORAIS

1. Perca por muitos, perca por poucos, o PS de José Sócrates não é o PS de António Guterres: tem uma maioria parlamentar absoluta e um líder determinado a exercer o poder de que dispõe.
2. Quaisquer ilusões que a direita possa ter quanto ao eventual desgaste do governo pelos resultados autárquicos devem, se a direita quiser regressar em breve ao poder, ser postas de lado na própria noite eleitoral.
3. A vitória dos chamados «candidatos problemáticos», que se apresentam em listas de independentes, servirá para reforçar a legitimidade formal dos argumentos contrários à abertura do sistema a pessoas independentes dos partidos e, em consequência, para manter nessas organizações o quase-monopólio da nossa vida política.
4. Para o funcionamento do sistema terão muito mais importância as eleições presidenciais do que as do próximo domingo. Não por acaso, aquelas eleições dominaram parte substancial do calendário destas. A razão é elementar: a demissão do parlamento que levou às últimas legislativas reforçou a componente presidencial do nosso sistema de governo e qualquer futuro inquilino do Palácio de Belém pode contar com a preciosa ajuda dada pelo seu antecessor.
5. A direita só poderá conceber o seu regresso ao poder em articulação eleitoral e programática entre o PSD e o CDS. Ninguém acredita, no seu bom estado de saúde mental, que Marques Mendes consiga uma maioria absoluta para o seu partido. Necessitaria, pelo menos, de duas condições: que o actual governo cometesse os mesmos disparates mediáticos que o de Santana Lopes o que, com Sócrates, é mais do que óbvio que não sucederá; e que Marques Mendes conseguisse galvanizar o povo de direita e do centro político, no que nem mesmo o próprio acreditará.
6. Nessa medida e antes mesmo de anunciar quaisquer planos nesse sentido (não necessariamente pré-eleitorais, como se viu na última vez que chegou ao governo), a direita terá de transmitir ao eleitorado a ideia de que constitui um bloco político uniforme e alternativo à esquerda e ao PS; que está preparados para governar, ao contrário do que sucedeu na última vez; que dispõe de gente capaz e disposta a assumir responsabilidades, isto é, que não se vai limitar ao refugo partidário, o que, por ora, não parece claro.
7. As próximas eleições presidenciais, ao contrário das autárquicas, serão determinantes para a direita se credibilizar ou se descredibilizar por muitos e longos anos. Ao invés da esquerda que está no poder, a direita se o quer alcançar tem de demonstrar a sua unidade em torno do Palácio de Belém. Ainda que isso lhe custe pesadas digestões elefantinas e, admita-se, possa ter consequências nefastas e quase irreversíveis para alguns dos seus líderes formais e naturais.