21.10.05

Corporativismo e a imaturidade cívica

Portugal é um país corporativo, o que torna a discussão política praticamente impossível. Todos têm a sua corporação e poucos são os que deixam de a defender (aqueles que não defendem a sua são olhados com alguma desconfiança). Perante uma crítica geral e abstracta a uma corporação, os membros dessa corporação (e os respectivos simpatizantes, pois algumas corporações até têm claque) tenderão a usar uma das seguintes tácticas:

1. atacar pessoalmente o crítico (e aqui vale tudo);

2. tomar uma crítica geral à corporação como um ataque pessoal e cerrar fileiras com os colegas;

3. tomar a crítica geral como um ataque à honestidade pessoal e manifestar indignação, de preferência com insultos ao crítico à mistura;

4. alegar que a corporação em questão é especial e por isso tem direito a certos privilégios;

5. alegar que existem outras corporações que também têm privilégios;

6. alegar que existem reformas mais urgentes a fazer.


Como é óbvio, ninguém se sente à vontade para criticar os privilégios da sua própria corporação, o que seria mal visto pelos colegas como uma traição.

Estas reacções demonstram a incapacidade de discutir a política para lá dos mesquinhos interesses pessoais. São um sintoma de total imaturidade cívica que impede qualquer tipo de reforma.