Portugal é um país corporativo, o que torna a discussão política praticamente impossível. Todos têm a sua corporação e poucos são os que deixam de a defender (aqueles que não defendem a sua são olhados com alguma desconfiança). Perante uma crítica geral e abstracta a uma corporação, os membros dessa corporação (e os respectivos simpatizantes, pois algumas corporações até têm claque) tenderão a usar uma das seguintes tácticas:
1. atacar pessoalmente o crítico (e aqui vale tudo);
2. tomar uma crítica geral à corporação como um ataque pessoal e cerrar fileiras com os colegas;
3. tomar a crítica geral como um ataque à honestidade pessoal e manifestar indignação, de preferência com insultos ao crítico à mistura;
4. alegar que a corporação em questão é especial e por isso tem direito a certos privilégios;
5. alegar que existem outras corporações que também têm privilégios;
6. alegar que existem reformas mais urgentes a fazer.
Como é óbvio, ninguém se sente à vontade para criticar os privilégios da sua própria corporação, o que seria mal visto pelos colegas como uma traição.
Estas reacções demonstram a incapacidade de discutir a política para lá dos mesquinhos interesses pessoais. São um sintoma de total imaturidade cívica que impede qualquer tipo de reforma.