6.10.05

E o Porto aqui tão...longe!

Vi o debate, na RTP 1, entre os candidatos à C.M.Porto. O grande debate sobre o Porto, conforme foi previamente anunciado.

Fiquei deprimido e inquieto.

Deprimido, porque o nível dos candidatos será, seguramente, muito mau.
Abro uma relativa excepção no que diz respeito a Rui Sá. Apesar de tudo, sobretudo, apesar de uma certa cassete comunista, imagem de marca daquele partido, seus políticos e discurso (Rui Sá até nem é um "cassete Sá" muito típico - ou, se quisermos, até será muito pouco "cassete"!), o candidato da CDU e actual vereador do executivo PSD/CDS, sempre foi demonstrando algum conhecimento dos problemas da cidade, alguma coerência (seis anos na autarquia) e lançou, preto no branco, um dos grandes temas políticos estruturais e nacionais (mais tarde ou mais cedo, inevitável): a regionalização e as consequências da falta dela!

RR foi o que já conhecíamos; Francisco Assis, uma desilusão!

Fiquei inquieto, porque, de facto, já não sei bem se tenho ou não uma cidadania (talvez, em rigor, se sou mesmo munícipe) portuense; mais, nem sem bem se, afinal, vivo ou me posso considerar como vivendo no Porto!

Na realidade, não vivo em nenhum dos quarenta e quatro bairros sociais do Porto;
- pago, com esforço, a minha casa, os seus encargos, impostos e taxas inerentes;
- sofro com o trânsito caótico;
- perco tempo desmesurado com os tradicionais (mas sempre imprevisíveis) engarrafamentos;
- quando tento utilizar os transportes públicos, raramente consigo atingir os meus objectivos em tempo razoável ou então, com um mínimo de conforto;
- sujeito-me ao preço astronómico e nada público dos parques de estacionamento;
- sou atormentado por variadíssimos "arrumadores" (alguns dos quais, à porta de casa);
- debato-me com o mau funcionamento dos serviços municipalizados, designadamente, dos SMAS (por acaso...da responsabilidade directa de Rui Sá);
- como viajo frequentemente de comboio, continuo a espantar-me com o que é, vem sendo e parece que continuará a ser, a principal estação ferroviária da cidade. Verifico, sempre que vou a Campanhã, o que (não) são as suas acessibilidades;
- enquanto cidadão, sinto-me, nas ruas do Porto, desconfortável e sem serviços e infra-estruturas dignos de uma cidade europeia mediana (serviços de informação, telefones, acesso à net, taxis, apoio médico de emergência, WC's, jardins públicos, simples bancos na rua, etc., etc.);
- noto e "sinto na pele", cada dia que passa, o processo de atrofiamento económico por que passa o Porto e toda a sua região envolvente;
- vejo o desemprego na região, em crescendo e sem grandes expectativas de ser invertido este estado de coisas;
- comprovo o déficite de produtos culturais existentes na cidade e na região (bibliotecas que funcionem, museus abertos, roteiros de espectáculos que mereçam a pena...ou simplesmente, que existam!), etc., etc., etc.

Mas, porém, o que é que se debateu no dito debate?
Algum dos ítens atrás enunciados? Não!
Mesmo o caso "Paulo Morais" passou ao de leve, no debate; a questão do urbanismo...bom, a questão do urbanismo, acabou por ser reconduzida ao problema dos...bairros sociais!

De facto, o grande debate sobre o Porto girou em torno dos bairos sociais, mais bairros sociais, a problemática dos bairros sociais, o conhecimento (que cada candidato tinha) dos bairros sociais, novos investimentos camarários em...bairros sociais.

Por favor, digam-me, como posso aceder a uma casa num bairro social?

(e já agora, como posso pagar apenas 10 Euros de renda, não pagar IMI e enfim..., também dava jeito ter um subsidiozito qualquer)