6.10.05

EM MEMÓRIA DE FRANCISCO SÁ CARNEIRO




O Engº Sócrates, Primeiro-Ministro de Portugal, tem participado activamente na campanha eleitoral autárquica do PS, entre outras coisas, atacando politicamente os candidatos de outras listas e formações partidárias.
Dir-se-á que está no seu pleníssimo direito, já que ele é, também, o líder do PS e que foi nessa qualidade que os portugueses o elegeram para os governar.
Contudo, se formalmente este argumento é válido, materialmente não colhe. É que o governo a que o Engº Sócrates preside foi-nos apresentado como um governo de salvação nacional. Por isso, tem pedido sacríficios de excepção aos portugueses, a todos os portugueses. Por esta razão, deveria o chefe do governo abster-se de tomar atitudes que os dividissem, ou que o colocassem numa posição contrária a de muitos dos seus governados, sobretudo quando estão em causa questões meramente partidárias. Nesta altura de dificuldades, o primeiro-ministro deveria estar ao lado de todos os portugueses~e não a favor de uns contra outros.
Acresce, por último, que sendo o sistema de governo português de raíz presidencialista, não deixa de ser bizarro que o chefe de Estado se presuma de todos os portugueses, tendo de distanciar-se no exercício das suas funções dos partidos, enquanto que o chefe de Governo, função politicamente bem mais relevante, possa ser apenas o líder de um grupo.
É evidente que, de há muitos anos a esta parte, nenhum primeiro-ministro de Portugal pôs de lado a sua condição de líder do partido que o conduziu ao poder. O último a fazê-lo abandonou o cargo de secretário-geral do seu partido, para chefiar um governo que era também de crise. Aconteceu na década de 80 do século passado, e o primeiro-ministro em causa chamava-se Francisco Sá Carneiro.