Era uma vez, já lá vão alguns aninhos, um subsecretário de estado preocupado que foi visitar uma empresa dum empresário quase falido e vai daí juntou-se ao presidente da câmara e foram os dois sozinhos mais 37 assessores e 16 jornalistas visitá-la.
E quando chegaram estava lá o empresário quase falido que lhes mostrou como era bom ter aquela empresa por causa do emprego e do desenvolvimento e das exportações e do tecido económico e da procura e da oferta e que já era muito antiga e incrustada na memória de todos lá na terra e a concorrência é que era uma chateza.
E vai daí, o subsecretário de estado preocupado perguntou ao empresário quase falido o que é que um subsecretário de estado preocupado podia fazer para ajudar a empresa do empresário quase falido e os trabalhadores da empresa do empresário quase falido e os postos de trabalho e o tecido social e etecetra.
E o empresário quase falido disse ao subsecretário de estado preocupado que tinha um projecto que, certezinha absoluta, se o pudesse levar em frente a produtividade disparava e a empresa quase falida passaria a ser uma empresa que poderia dar lucros e pagar impostos e ia contratar 30 - trabalhadores - 30, qualificados e além disso o empresário até podia comprar um BMW novinho em folha, mas essa parte pensou mas não disse.
E foi aí que o subsecretário de estado preocupado sentiu o coração mais leve e não se conteve e disse em voz alta para todos ouvirem e os jornalistas também que o governo estava aqui para ajudar as empresas e o emprego e o tecido social e o empresariado dinâmico e que, certamente, o projecto do empresário quase falido estaria em condições de reunir as condições que fazem com que o subsecretário de estado ponha todos os assessores a correr para garantir que o projecto vá em frente.
E todos ficaram com esperanças que a empresa quase falida fizesse um "tarnaraunde" e assim se salvava o emprego e a indústria local e os fornecedores e o país em geral e o subsecretário empenhado ainda chega a ministro e essa parte também foi só ele que pensou mas não disse.
E então qual é o projecto, conte lá, a gente somos todos ouvidos, pediu o subsecretário de estado, preocupado mas confiante e agora sorridente.
E o empresário quase falido respondeu: "Ora é fácil. Só quero que me deixe despedir 30 gajos que não fazem a ponta dum corno e contratar outros 30 que trabalhem para o lugar deles".
E o subsecretário de estado deixou de sorrir e foi-se embora e o tempo passou e a empresa faliu e o empresário já se reformou e ainda tem o BMW antigo e o governo já é outro e na terrinha que um dia foi visitada por um subsecretário de estado preocupado e mais 37 assessores e 16 jornalistas ainda estão todos à espera que uma migalha dos 150.000 empregos chegue lá.