7.10.05

Importações versus Exportações II

Considerando que o mundo só tem 2 países, A e B. Se o país A for um exportador permanente acumula dinheiro. Esse dinheiro, do ponto de vista do país, só tem valor se puder ser utilizado para melhorar o bem estar da população. Ora, dinheiro por si só não melhora o bem estar de ninguém pelo que esse dinheiro só pode ser usado para melhorar o bem estar das populações se for usado para pagar importações.

A conclusão é a mesma se existirem mais de 2 países porque um país exportador só pode ganhar com as exportações se o dinheiro ganho puder no futuro ser convertido em importações.

A conclusão é a mesma se o dinheiro utilizado for ouro porque o ouro só tem valor para além do seu valor como bem de consumo ou matéria prima se puder ser usado para pagar importações. O ouro enquanto bem de consumo ou matéria prima conta como importação.

E a conclusão é a mesma se forem considerados os empréstimos entre países. Num mundo com dois países, um país só pode ser um importador permanente se pedir dinheiro emprestado ao país exportador. Mas o empréstimo só pode ser pago se o país importador se tornar exportador e o país exportador só poderá cobrar as suas dívidas se se tornar importador. Esta mudança de papeis acontecerá naturalmente quando se atingir o limite da capacidade de endividamento do país devedor.

A argumentação poderia ser complicada com a introdução dos efeitos do investimento estrangeiro, do turismo ou das remessas dos emigrantes e imigrantes. Mas o ponto é que não são as exportações que enriquecem um país porque um superavit comercial apenas garante o aumento dos créditos sobre o exterior à custa de bens de exportação valiosos. Os créditos sobre o exterior não garantem por si só o desenvolvimento. Aliás, o desenvolvimento muitas vezes garante-se através da importação de bens necessários ao investimento.

A priori não existe nenhuma combinação correcta de importações e exportações que garantam o desenvolvimento de um país. Mas deve-se garantir que cada agente económico possa ter uma combinação de importações e exportações que esteja de acordo com as suas preferência. Cada agente terá as suas preferências condicionadas pela sua capacidade de endividamento. O mercado encarregar-se-á de garantir a combinação certa de exportações, importações e endividamento e de que os eventuais excessos se corrijam naturalmente.

O défice comercial português tanto pode ser positivo como negativo, dependendo das suas causas concretas. Se se deve à importação de equipamentos destinados ao investimento por empresas do sector livre da economia então é positivo. É igualmente positivo se se deve a decisões de consumo livres por parte de consumidores que assumem as suas responsabilidades. Mas é negativo se se dever a consumo irracional induzido por distorções causadas pelo consumo público excessivo.

A ideia de que os problemas económicos do país podem ser resolvido através da chamada aposta nas exportações está totalmente errada. A baixa capacidade exportadora do país não é uma causa, mas um sintoma da verdadeira causa. O verdadeira causa é a ineficiência do sector público e dos sectores protegidos da economia privada. São estes sectores que andam a desperdiçar os recursos que poderiam tornar o sector exportador competitivo. A solução não está portanto no estímulo às exportações, o qual envolve necessariamente mais desperdício de dinheiro público, mas na libertação de recursos do sector público e dos sectores protegidos através da redução do estado e da liberalização da economia.