É o que subjaz a este tipo de comentário e de discussão, balizada pelos termos subjacentes a tal tipo de comentário.
Tudo - no caso, "cultura" - que não é "independente", subsidiado, subsidio-dependente, absolutamente burocrático e, sobretudo, planificado através de políticas estatais (proclamadamente públicas), é mau, não tem qualidade. Tudo o que agrade (minimamente) ao público, não tem qualidade.
Tudo o que possa gerar receitas, não presta, é "comercial". Se se critica, mesmo ao de leve, a inutilidade e/ou a irracionalidade de uma "cultura" estatal, pensada por quem a faz para consumo (e proveito) próprio, absolutamente "independente" do próprio público, então, está-se a defender o pimba, o mau, o sórdido, a falta de qualidade!
Era importante, desde logo e antes de entrarmos em debates deste género - e, no caso, recorde-se, sobre a dita "cultura" - definir-se:
a) o que é isso de "cultura"?
b) o que é a "qualidade"? Quem a define, legitimamente?
c) o que é isso de "público"? Melhor, de que "público" e para que "público" é que estamos, em cada caso concreto, a falar.
Não seria também menos importante lembrar que "qualidade" de um produto (mesmo dito "cultural") afere-se pela respectiva capacidade de satisfazer uma necessidade;
Não há, consequentemente, um nível e um conceito absoluto, objectivo e universal de "qualidade".
De resto, essa tão procurada "qualidade" só se poderá verificar em concreto e perante o "consumidor"/destinátário de tal produto que, com ele, também em concreto, pretende satisfazer uma determinada necessidade (a sua necessidade!).
Não sei se a Carmén de Bizet, brevemente em representação entre nós (pelo menos, em Lisboa), terá, por exemplo, para um velho pastor transmontano no momento em que este se encontrar em plena labuta, alguma "qualidade".....