11.10.05
MAU TEMPO
1. A espúria coligação estabelecida entre a CDU e o SPD para o governo da Alemanha, diluirá a fronteira política que sempre se estabelece entre os partidos dominantes de um qualquer sistema democrático, lançando a confusão no eleitorado e fazendo aparentemente desaparecer a distinção entre amigos e inimigos políticos naquele país. Aparentemente, só e apenas, porque, mais grave do que qualquer hipotética diluição da conflitualidade política, o casamento de conveniência da Srª Merkel com o Sr. Schroeder levará para dentro do próprio governo essa conflitualidade, com resultados que não poderão ser bons nem para a Alemanha, nem para a Europa e nem, por consequência, para Portugal.
2. Em Portugal, o resultado das autárquicas lançou o PSD em euforia e o PS em depressão. As presidenciais que vêm aí, reforçarão esta tendência. É bom não esquecer dois aspectos: que Sócrates tem quatro anos para governar com maioria absoluta no parlamento e que, no passado, aconteceram coisas semelhantes: Cavaco foi esmagado nas autárquicas imediatamente anteriores à sua segunda maioria absoluta e Marcelo Rebelo de Sousa ganhou tudo o que havia para ganhar antes do seu partido perder as legislativas a favor de Guterres. E já que o saudoso Comissário da ONU veio à baila, desiludam-se aqueles que julgam Sócrates pela bitola do seu antecessor.
3. No «Público» de hoje (link indisponível), António Pires de Lima confessa-se desiludido com os resultados do partido e afirma que «o divórcio entre o partido e o eleitorado agudizou-se» nestas eleições. Esta inefável verdade é, contudo, bem mais antiga do que o Dr. Pires de Lima julga. Desde há muito que o CDS não existe como partido, isto é, como estrutura sociologicamente composta por dirigentes e militantes, que se reúnem em sedes abertas ao público. Quem se der ao cuidado de fazer um périplo nacional pelo país onde o CDS tinha obrigação de ter vida real, encontrará sedes fechadas ou destruídas e dirigentes e militantes desmoralizados. Mesmo nas grandes cidades, ou melhor, sobretudo nas grandes cidades, o cenário é este. As razões que explicam isto são várias, embora se possam tipificar em duas ou três: o CDS não teve poder durante muito tempo, logo, não foi atractivo para as «elites» que lhe podiam dar substância; quando chegou perto do poder, usou-o mal, conforme o próprio Dr. Pires de Lima há pouco tempo reconheceu; mais grave do que isso, terá sido o facto de muitas das suas «esfomeadas» estruturas locais se terem blindado para impedir a concorrência que os poderia afastar do tão longamente aguardado e suado lugar político. No CDS, ao contrário dos partidos normais, há mais generais do que tropas e são os primeiros que impedem os segundos de chegar ao campo de batalha. O resultado final, como é evidente, só poderia ser pior do que a derrocada de Waterloo.
4. O destino do CDS só poderá ser, assim, um de dois: ou a diluição no PSD, já em marcha, como bem o demonstram as sessenta coligações autárquicas, que deram dezanove câmaras municipais, contra a única que o isolacionismo do partido permitiu alcançar; ou o regresso de um líder que relance o partido nos media, único sítio através do qual poderá alcançar resultados eleitorais sofríveis. Aí, apesar da competência e das qualidades intelectuais e humanas do Dr. Ribeiro e Castro, só dois nomes estão em condições de relançar o CDS para o estrelato: o Dr. Paulo Portas (se não fizer a asneira de ir às presidenciais) e o Dr. António Lobo Xavier (se finalmente abdicar da sua bem sucedida carreira profissional em favor da Pátria).
5. O «Forum TSF» de hoje discutiu a possibilidade de se mudar a lei que permite as candidaturas de independentes, por causa de alguns resultados de domingo. Já o tínhamos aqui previsto, embora não nos ocorresse que a coisa fosse para já. De facto, mesmo na sua imensa previsibilidade, Portugal continua a surpreender.