5.11.05

Leituras: Freakonomics.

Publicado em 2005, "Freakonomics" é uma interessante obra de S.D. Levitt e de S.J. Dubner. A edição analisada é a primeira edição da editora William Morrow, New York. Baseando-se numa série de artigos de investigação económica publicados anteriormente, Freakonomics apresenta-se como um texto de leitura fácil, agradável e certamente provocadora, abordando uma série de tópicos aparentemente desconexos, tendo, contudo, alguns deles uma preocupação subjacente comum: o fenómeno criminal.

Para os autores, "morality... represents the way that people would like the world to work" enquanto que "economics represents how it actually does work" (pág. 13). Os autores abordam a questão dos incentives ("the cornerstone of modern life", pág. 13), partindo de uma atitude de descoberta do mundo que designaríamos, porventura, por científica, reconhecendo, desde logo, que "The conventional wisdom is often wrong" (pág. 13).

A obra analisa questões tão variadas como as eventuais fraudes cometidas por professores, melhorando irregularmente as notas dos seus alunos de forma a forjar uma melhor imagem de si próprios, a possível irregularidade em derrotas de lutadores de Sumo em confrontos nos quais não carecem de vencer, as actividades do Ku Klux Klan, dos agentes imobiliários e dos drug dealers, não esquecendo as interacções entre pais e filhos.

Contudo, tópico com particular interesse é a análise da problemática da diminuição do crime nos EUA na década de 1990, sendo que a explicação que é oferecida aponta no sentido segundo o qual tal diminuição se ficaria a dever à alteração do enquadramento legal do aborto/IVG em 1973.

Seguindo as linhas de raciocínio de "The impact of legalized abortion on crime", de J.J. Donohue III e S.D. Levitt, publicado em The Quarterly Journal of Economics em 2001, em Freakonomics defende-se o conceito segundo o qual a criminalidade teria diminuído porque na geração nascida a partir de 1973 (1970 em 5 estados) não estariam representadas as crianças cujas mães não teriam estado interessadas no respectivo nascimento, as quais por falta de uma série de condições, teriam eventualmente tido maior tendência a tornar-se criminosos.

Para os autores, "when a woman does not want to have a child, she usually has good reason" (pág. 137-8). Temática certamente interessante, a tese defendida em Freakonomics será, com toda a probabilidade, geradora de uma nova página de um debate sem fim à vista.

Regressando, para terminar, a um ponto anteriormente aflorado, Freakonomics de alguma maneira traz até um público diversificado, e de uma forma anti-convencional, a forma de pensar e o método intelectual característicos da actividade científica, sendo que a utilidade de métodos mencionados no texto, tais como a correlação e a análise de regressão, ultrapassa largamente o foro das ciências económicas, sendo utilizadas em múltiplos tipos de actividade científica.

Relativamente às questões afloradas em Freakonomics, bem como na literatura científica que lhe serve de suporte, coloca-se a questão de saber se as respostas encontradas são verdadeiras. Como sempre acontece, algumas respostas poderão ser tomadas por verdadeiras até que alguém demonstre que estão erradas.

José Pedro Lopes Nunes