7.11.05

Má integração!

A história tem por cenário a cité universitaire, em Paris.
Importa advertir que, apesar da descrição vaga (por razões óbvias) que se segue, a dita história foi relatada por quem viveu e assistiu, de perto, aos factos e conviveu com as respectivas personagens.

Tudo se passou numa das muitas "casas" que compõem a cité. Por sinal, não afecta a nenhum país e da responsabilidade directa de uma Fundação e do Estado francês.

Ibrah e Zenia, oriundos da Costa do Marfim e do Mali, respectivamente, eram estudantes.
Em rigor, viviam em França há, respectivamente, 8 e 7 anos, beneficiando do Welfare State (État Social) gaulês. O que estudavam? Já ninguém sabia lá muito bem (talvez, nem eles próprios), tantos eram os anos de estudo - ou de frequência ou, em rigor, de inscrição - numa qualquer Escola Superior Parisiense, com redução ou isenção de proprinas.

Não pagavam alojamento e, como sofriam de incapacidade física-motora, eram acompanhados por uma assitente social. O Estado francês tinha-lhes providenciado cadeiras de rodas electricas. Beneficiavam, também, de um programa que os integrava como funcionários à "demi-temps" (50%) num organismo público francês (eram, respectivamente, ele, vigilante de um serviço de documentação e ela, recepcionista/telefonista).

Mensalmente, reuniam-se com a assistente social que os acompanhava, enquanto pessoas particularmente desfavorecidas e com manifestas dificuldades de integração.

Nessas reuniões, a dita técnica francesa, trabalhando para o respectivo serviço público que detinha o dossier de Ibrah e Zenia, passava em revista os problemas e as dificuldades que, cada um deles, tinha tido ou sentido, no que dissesse respeito à respectiva integração!

Queixas? Muitas. A princípio, colocadas de forma mais ou menos tímida; depois, recorrente e invariavelmente expostas de forma firme, repetidas e sublinhadas mensalmente com exigências cada vez mais veeementes; finalmente, acompanhadas de comentários desagradáveis sobre a discriminação de que eram vítimas, pelo Governo francês, em geral, e pela dita assistente social, em particular - responsável (segundo eles) por as suas exigências não serem satisfeitas com a prontidão desejada (peças novas para as respectivas cadeiras electricas, também elas, já de si, relativamente novas; obras nas rampas, ligeiramente íngremes, de acesso à residência universitária; computador novo para o quarto de um deles; fornecimento dos medicamentos a que tinham gratuitamente direito, mais consentâneo com as respectivas conveniências de vida; requisição de mais material de estudo a que, segundo eles e em consonância com o respectivo estado e estatuto pessoal de handicapés lhes seria devido, etc., etc., etc.).

Quando souberam que a dita assistente social tinha pedido para deixar de acompanhar os seus dossiers - e isto, depois de tais reuniões mensais se terem tornado, em crescendo, em autênticos meetings reivindicativos que exasperavam a dita técnica da segurança social (ou organismo equivalente) - Ibrah e Zenia comentaram, alto e em bom som para quem os quis ouvir, que a dita assistente social era uma racista que não gostava de Africanos...