Há uma geração que cresceu politicamente embalada nas lendas gloriosas dos lutadores pela liberdade (!?) dos anos 60 do século passado. Que apreendeu a sua realidade nas letras das músicas de vanguarda, nos relatos mistificados do Maio de 68, em visões deturpadas da história e nas recordações das ocupações selvagens das Universidades onde alguns foram revolucionariamente recompensados com passagens administrativas.
Muitos deles petrificaram para sempre o seu cérebro nesses míticos lugares. Ainda que se tenham tornado burgueses barrigudos e contagiosamente bocejantes, julgam-se cavaleiros andantes (sem Antero) sempre prontos a afrontar a autoridade e a desafiar o status quo.
Nunca o fazem, porém. Até porque eles são o actual status quo. Mas gostam de fingir para si próprios que não.
Assim, quando vêm um meliante a atirar pedras, a ensaiar barricadas, ou a fazer um coktail molotov e a insultar a polícia, seja na Argentina, na Palestina ou em França, sentem-se a si mesmos na imagem do que gostariam de ter sido. Cresce-lhes no peito a ânsia revolucionária e o desejo de se tornarem revoltosos por simpatia. Sentem-se mais novos, por momentos esquecem a monotonia que são e em que estão. Conseguem até, por breves instantes, escapar à verdade de agora representarem tudo aquilo que mais desprezaram na sua juventude.
Por isso, perante o descalabro da receita francesa fingem não ver. Desculpam os agressores e acusam o que não existe. Sem perceberem que estão a acalentar o novo Ovo da Serpente recusam encarar a realidade que o bom senso transporta.
Insistem irracionalmente nos mesmos arquétipos que os acompanharam até aqui - porque não conhecem outros e, sobretudo, porque essa geração não tem grandeza para reconhecer que estava errada. Hoje e sempre.