4.11.05

O TRONO E O ALTAR

«Ainda hei de ver o Rui adepto da Coroa e o CAA adepto do Altar. O mundo dá muitas voltas, embora esteja sempre no mesmo sítio...», escreveu o AAA, o nosso bondoso e sempre atento Consultor, sem saber como estava perto da Verdade.
Falo por mim, obviamente, que pelo CAA nada direi, até por lhe desconhecer o actual paradeiro, quanto mais se ele permanece ateu, se se converteu ao catolicismo, ou aos mormons, hipótese bem provável em razão do local por onde diz andar.
Mas o que sei, quanto a mim, é que tenho cada vez menos dúvidas e mais certezas (a moda está de regresso...) sobre a inutilidade de um Chefe de Estado eleito num sistema de governo parlamentar, que é aquele que, como europeu, julgo que mais nos convém. Se vivesse nos EUA, outro galo certamente cantaria. Mas na Europa, entre ter Chefes de Estado meramente protocolares e simulacros gaullistas de presidentes americanos (e pior do que isso, simulacros de simulacros, como é o noso caso), não tenho qualquer hesitação em preferir os primeiros.
Assim sendo, começo a duvidar das vantagens que possam existir em eleger ciclicamente um cavalheiro para fazer de conta que chefia um Estado. Como não tenho dúvidas que o sistema monárquico, neste caso e apenas neste, dá mais estabilidade ao país, na medida em quee o Rei sabe que é apenas e só um moderador institucional e nunca será mais do que isso. Por outro lado, como não tem que ser eleito, não depende do favor do voto, nem tem de fazer favores a ninguém.
Tenho pensado muito nisto a propósito de Portugal e de Marcello Caetano. Não tenho dúvidas que o malogrado Presidente do Conselho de Ministros tinha o animus de reformar Portugal, de o democratizar, de criar condições para uma descolonização séria e teria sido o homem certo para o fazer. O que é, então, lhe faltou? A autoridade institucional de um Chefe de Estado que não dependesse de ultras, liberais, federalistas, ou outra coisa qualquer. Por outras palavras: se, em vez se Américo Thomaz (ou de outro Thomaz qualquer) Marcello Caetano tivesse com ele Dom Juan Carlos (ou outro Carlos qualquer, que não o CAA),a História de Portugal teria sido diferente e a transição democrática teria sido outra, em vez da tragédia que o 25 de Abril provocou com uma descolonização mal feita, com nacionalizações e com o PCP e Vasco Gonçalves a destruirem o país.
Será que estou a converter-me à monarquia? Talvez estas eleições presidenciais me ajudem a encontrar uma resposta...