15.11.05

POR UM LIBERALISMO PORTUGUÊS

A umbigologia, isto é, a arte de ver o mundo pelo próprio umbigo é um exercício perigoso e redutor, que, em política, pode levar ao ridículo e ao patético mais demolidor.
A falsa modéstia, ou a redução exagerada dos próprios talentos e capacidades é, também, exercício que se não recomenda, por empobrecedor e falseador da realidade
E, a realidade que me conduziu a estas duas afirmações, é a de que provavelmente pela primeira vez na sua História, Portugal começa a aperceber-se do liberalismo como filosofia e ideologia política que lhe pode ser útil. Nunca, em duzentos anos de constitucionalismo, se falou em liberalismo como hoje se fala, se questionou o Estado e as suas funções, como hoje se questiona, nem nunca se diagnosticou tão rigorosamente os erros do Estado Providência como hoje eles estão diagnosticados.
De quem é o mérito? Das Universidades, arreigadas ainda aos velhos mitos keynesianos, não é certamente. Das editoras, que em trinta anos de democracia não terão editado mais do que uma dezena de livros de autores liberais, também não. Dos partidos políticos que o ostracizam, menos ainda. Da comunicação social que secularmente o ignorou, nem pensar.
Julgo que a razão se pode encontrar, ela mesma, numa simples regra de mercado-livre, daquelas que tanto estimamos: o excesso do Estado Providência, das suas asneiras e desvarios, gerou a procura natural de uma alternativa. E essa alternativa chama-se liberalismo.
No contexto do debate de ideias, da divulgação de autores, escolas e teorias, a blogosfera tem sido uma arma tão poderosa e essencial, quanto imprevisível. Se hoje, na opinião pública e publicada, o liberalismo está na ordem do dia, aos blogues liberais e a dois ou três comentadores regulares da comunicação social, se deve.
É chegada agora a hora, se queremos efectivamente contribuir para consolidar uma verdadeira consciência liberal em Portugal, que possa ser útil ao futuro do País e ao dos nossos filhos, de dar um passo em frente e, sem pretensões unificadoras ou dirigistas, cooperarmos no sentido de transformarmos o liberalismo português numa teoria consistente que possa ser vista pelos portugueses como uma praxis para o dia de amanhã.
Não o fazer, resultará em deixar que tudo isto se quede por um exercício de diletantismo intelectual, que comprometerá qualquer recuperação futura daqueles que amam a liberdade e querem pôr o Estado e os que o governam no seu lugar certo, rigoroso e justo: no mínimo possível de soberania, para que ela possa, finalmente, ser exercida por aqueles que devem ser os seus legítimos titulares: os cidadãos.