15.11.05

Silêncios com sentido

No Reino Unido, qualquer cidadão não pode estar preso mais de 48 horas, sem ser acusado de um crime. Há uma excepção para os casos de suspeitos de terrorismo, cujo prazo era de 14 dias.
Blair propôs alterar tal prazo para 90 dias. Tinha do seu lado a chamada «opinião pública» e as forças policiais. Tal proposta foi recusada pelo parlamento, sendo aceite um solução mais mitigada de aumento de tal prazo para 28 dias.

Não fossem as circunstâncias e muitos viriam apontar o dedo a mais um tentativa de «deriva securitária do lacaio bushista».

Três factores contribuem para que tal «ruído» não se tenha verificado de forma generalizada:
1. Em Portugal, os prazos em que um cidadão pode estar preso sem ser formalmente acusado de qualquer crime contam-se por largos meses e ninguém pretende alterar tal situação lesiva dos direitos do cidadão;
2. A proposta foi derrotada (e bem), pelos deputados conservadores, pelos liberais/democratas e pela ala centrista do partido trabalhista. Tudo gente pouco «progressista» e bastante mais arreigada à defesa dos velhos princípios dos «direitos e liberdades individuais».
3. Em França, território geralmente apontado como «progressista» e ante-câmara do paraíso social, sem que ninguém tenha pestajenado, o Estado decretou o estado de emergência, permitiu o recolher obrigatório e a proibição de manifestações.

Que um país europeu, considerado livre, adopte medidas radicais, suspendendo e limitando gravemente os direitos e liberdades individuais, e que ninguém veja nisso um ataque perigoso à liberdade espanta-me e assusta-me.
A partir do momento em que um Estado e as forças políticas fazem, como em França, uma leitura política dos distúrbios, respondendo ao mesmo com a injecção de milhares de milhões de euros e demais medidas proteccionistas e «sociais», está aberto o caminho e concretizado um novo modelo de «diálogo« social e político, não-democrático, nem representativo.