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Na base de toda esta revolta encontra-se uma intensa aversão quanto aos actuais caminhos do Estado Providência francês geradores de desemprego e de desigualdades sociais: "Estamos fartos do Estado-Papá-e-Mamã!", gritavam os jovens, alguns deles bastante politizados, enquanto se preparavam para incendiar mais um carro.
Também a estratégia multiculturalista que os poderes públicos franceses têm seguido nas últimas décadas tem sido contestada por alguns grupos de manifestantes sem papas, nem couscous, na língua: "La France c'est une merde!", asseguraram-nos.
Do mesmo modo, pressente-se uma crescente insatisfação face à política cegamente proteccionista do Estado gaulês - elementos bastante próximos dos manifestantes asseguraram ao repórter que no auge das refregas com a polícia se ouviram palavras de ordem a favor da globalização e "vives" ao comércio livre.
Mas o ponto em que todos os protestos se reuniam era em relação à obssessiva política anti-americana de todos os governos franceses. Na verdade, conhecido o fascínio da maioria dos jovens manifestantes pela música RAP proveniente dos Estados Unidos, grande parte da contestação assenta no desagrado que a sistemática oposição francesa às políticas norte-americanas parece estar a causar. Fomos testemunhas disso mesmo quando um jovem que tinha acabado de partir uma montra a pontapé, com um livro de Kristol debaixo do braço, nos garantiu: "Chirac tem de apoiar o presidente Bush, ya know what I'm saying?...