Parece que, finalmente, o prof. Cavaco se fartou das meias-tintas onde andava a navegar e disse ao que vem, com esta elementar declaração: «Um Presidente da República não pode ser apenas um moderador, um ouvidor, um árbitro a apelar ao diálogo. Exige-se mais ao Presidente da República (...) Eu, se for eleito, estarei muito atento à actividade do Governo»».
Fica, assim, muito claro que, com Cavaco na Presidência, o regime irá inexoravelmente presidencializar-se, tal qual sucedeu no tempo do Presidente Eanes, por acaso, ou talvez não, presidente da sua comissão de honra e símbolo incontornável da sua candidatura. O que, ao contrário dos arautos da desgraça que por aí andam, nem é crime, nem é inconstitucional.
No sistema semipresidencialista que temos, o prof. Cavaco, se eleito (e quem duvida que o será), vai ter uma palavra a dizer na condução política do País. Quer o governo (este ou outro qualquer) queira, quer não.
De resto, nem outra coisa seria de esperar dele, nem outra coisa querem dele os portugueses. Na boa tradição monárquica que nos caracteriza, o Chefe de Estado paira acima das instituições, possui um carisma universalmente aceite, só se movimenta pelo bem comum e, sobretudo, possui poderes mágicos com os quais, se os malvados dos políticos deixarem, rapidamente salvará a Pátria.
Se o conseguirá ou não, logo veremos. Agora, que de uma coisa ninguém duvide: os tempos que aí vêm prometem grande animação.