7.12.05

Da «pátria» II

Mistura-se demasiadas vezes sem razão ou necessidade a nação, conjunto de pessoas com afinidades culturais, com estado, território dominado por uma mesma autoridade central. O que é capaz de não ser boa ideia quando se sabe que existem nações espalhadas por vários estados e estados onde vivem várias nações.

A confusão entre o estado e a nação é usualmente promovida por elites que tendem a racionalizar os laços que unem os membros de uma nação atribuindo-lhes um significado político que ultrapassa e muitas vezes desvirtua a natureza da própria nação. Quando isto acontece, a nação deixa de ser um conjunto de pessoas com afinidades entre si e passa a ser um conjunto de pessoas confinadas num território e que não têm outra hipótese que não a de seguir a ideia que as elites dirigentes têm de nação.

A ideia de que o estado é a nação é uma ideia perversa em vários sentidos. Uma nação é demasiado complexa e diversificada para ser representada pelos burocratas que dominam o estado, qualquer que seja o sistema de governo vigente. Até os mecanismos democráticos são insuficientes para representar correctamente aquilo que seriam os sentimentos da nação porque só uma pequena fracção da informação necessária para descrever toda a nação é que pode estar representada nos órgãos políticos. A política tende a ser dominada por um grupo restrito de facções, normalmente aquelas que se encontram mais motivadas e que não representam minimamente as ideias políticas dos eleitores e ainda menos todas as ideias não políticas que os eleitores têm e que não podem nem devem ter expressão política.

Os projectos políticos dos nacionalistas têm como principal objectivo usar o aparelho de estado para promover uma certa ideia de nação. Mas se essa ideia de nação necessita do aparelho de estado para se impôr é porque é uma ideia de nação contrária aos sentimentos da própria nação. É que, das duas uma, ou as pessoas que constituem a nação já têm determinados sentimentos nacionalistas e usam a sua própria liberdade para construir um determinado tipo de nação e a nação emerge de forma espontânea, ou as pessoas que constituem a nação não têm nenhum sentimento nacionalista e ninguém tem legitimidade para criar a nação com a ajuda da força do estado.