7.12.05

Estratégias

P. vive em Matosinhos e atinge a maioridade no próximo dia 21 de Janeiro. Os pais, satisfeitos com o aproveitamento escolar de P., cedem ao desejo do filho e oferecem-lhe uma viagem. P. tem amigos em Londres e em Lisboa. Não quer alojamento, apenas a viagem. Os pais estudam as alternativas:

1. Uma viagem a Londres via Ryanair, partida a 20, regresso a 27: 62.40 ?. (19,98 para a Ryanair, 42.42 ? de taxas e impostos)

2. Uma viagem para Lisboa, via TAP ou Portugália, para as mesmas datas: 256.64 ?, (212? para a companhia, 44,64 ? de taxas e impostos). As companhias low-cost estão proibidas pelo estado de oferecerem aos portugueses as ligações entre Lisboa e Porto.

Ainda alguém se surpreende por saber que a Portugália e a TAP cobram por estas viagens para Lisboa quase 11 vezes mais do que a Ryanair cobra para Londres?

E se já houvesse TGV, poderíamos acrescentar uma terceira opção:

3. Um bilhete de ida e volta para o TGV Porto-Lisboa, mesmas datas: 500,00 a 1000,00 ?, divididos em duas fatias, 10% a 20% pagos pelos pais de P., 80% a 90% pagos pelos contribuintes portugueses. Não pensem que é um exagero, estes números não estão nada longe da realidade anunciada.

Como é óbvio, neste caso P. vai conhecer Londres.

Entre três cenários alternativos que servem o mesmo propósito, satisfazer uma necessidade dos consumidores, o estado português aposta no mais caro e rejeita todas as soluções que permitam a Lisboa competir com Londres, negando sempre as opções que conduzam a tarifas ao nível das do primeiro cenário.

A escolha pela oferta de um produto a baixo custo, tipo Ryanair, é também rejeitada pela TAP, cujo presidente não se cansa de anunciar a sua oposição à opção Portela + 1. Embora Fernando Pinto não o diga expressamente, o que a TAP não quer é concorrência barata às portas de Lisboa.

Para conseguir oferecer aos portugueses viagens baratas e rápidas entre Lisboa e Porto, ou ligações com o resto do mundo, não é preciso gastar incontilhões em Otas e TGVs. Basta liberalizar o espaço aéreo. Hoje, o único motivo pelo qual uma viagem entre Porto e Lisboa não é mais barata do que uma viagem entre Porto e Londres é o proteccionismo.

O governo está preocupado com a viabilidade da TAP, da Portugália, da ANA, com a comparação entre os tamanhos dos aeroportos da Portela e Barajas (o meu é mais comprido que o teu), com o lobby da RAVE, da REFER e da CP, com os fundos europeus, com as empresas de construção e com a face dos políticos que fizeram promessas infelizes.

O que não preocupa nada o governo é o custo das suas opções, que serão pagas pelos consumidores/contribuintes/cidadãos.

Interrogo-me sobre o nome que devemos dar a este tipo de estratégias absurdas. Pinhismo, Linismo, Socratismo ou Socialismo são tudo boas hipóteses. Chamar-lhe simplesmente roubo pode ser mal interpretado.