Parece-me que RS e alguns outros comentadores estão a passar muito ao lado do fulcro da questão.Comentário de RS neste post.
Podem contar comigo para defender o direito de um muçulmano a passar uma tarde na Rua do Carmo evangelizando as massas, distribuindo libelos de menorização das esposas perante os maridos, publicitando a sacra disparidade de sexos e solicitando a obrigação legal da utilização do véu nas escolas, tudo devidamente abrilhantado por grandes placares com burlescas caricaturas de todos os símbolos a que devoto respeito. A mim, cabe-me lutar para que este e outros senhores com ideias do género, não tenham sucesso nas suas exigências e que a lei nunca contemple tais desmandos.
Só a cada um de nós, individualmente, cabe a avaliação do que se gosta e do que não se gosta. Se não gostarmos, temos o direito de protestar, montar banca em frente ao outro e vender ideia oposta. Se a indignação for suficientemente forte ou nos sentirmos demasiado insultados, para lá dos limites da lei, até podemos processar o ímpio blasfemador.
É também porque somos livres e porque sabemos o valor da liberdade que evitamos incomodar os outros. Não devemos fumar em locais fechados, não devemos insultar terceiros nem amesquinhar convicções que não partilhamos e nem sequer devemos insultar as crenças dos que insultam diariamente as nossas. A nossa contenção nasce da capacidade que cada um de nós tem de avaliar os actos que pratica e de estabelecer livremente escalas de valores.
Do que não nos podemos esquecer é que nunca seremos livres se a nossa contenção for feita em nome do medo ou da ameaça. Se o que está em causa é o temor da represália, a nossa liberdade já foi sequestrada. Nessas alturas, a aplauso é para quem não se deixa sequestrar.