12.11.04

O CONGRESSO DA PATETOCRACIA

Um dos mais sólidos indícios da decadência dos regimes consiste na frequente promoção de congressos, fóruns, reuniões alargadas de patriotas, com a finalidade de salvar qualquer coisa.
Só nestes últimos meses reuniram os «empresários» portugueses, no pujante congresso «Objectivo: Portugal» e os «operadores» judiciários, no «Congresso da Justiça». Nos tempos mais próximos, nas «Novas Fronteiras», o PS, pela milionésima vez, explicará ao país como o pretende salvar e retirá-lo da «cauda» da Europa, tornando-o moderno, competitivo e audaz. Os partidos da coligação governamental devem promover uma iniciativa semelhante, lá mais para meio do ano.
Entretanto, decorre um importante «Congresso da Democracia», onde participam figuras de incontornável mérito político, como o Capitão Vasco Lourenço, o General Ramalho Eanes e Senhora, o Eng. Guterres e o Dr. Monteiro, este último a aguardar que se cumpra o desígnio nacional de se coligar (ele mesmo) com o PSD, em substituição do caduco e cada vez mais isolado CDS.
Tem dado gosto assistir ao notável esforço de inteligência com que as nossas elites se aplicam para nos salvar das «perversões» e dos desvios a que gente irresponsável tem conduzido a pátria e o regime. No que toca especificamente à democracia, são de esperança os sonoros sinais que foram ontem emitidos pelo Almirante Rosa Coutinho, capitão «sem medo» e «sem sono» da alvorada de Abril, que, no referido Congresso, enquanto o Eng. Guterres perorava sobre as recentes maleitas da pátria, ferrava o galho no meio da assistência. Ora, se o valente capitão de Abril dorme tranquilamente, é porque a democracia, esse tão precioso bem que ele sempre cuidou com esmero e devoção, não está certamente em perigo. Felizmente.
Com tamanhos e tão aplicados patriotas a zelarem pelo nosso destino, podemos, nós também, dormir sossegados.