A Srª Ministra da Cultura pretende, segundo noticia o Público, criar «as condições necessárias para o regresso de Pedro Burmester à Casa da Música».
Sabendo-se da forma como o pianista se afastou do projecto, em ruptura com Rui Rio, a piedosa intenção tem uma leitura política óbvia, de resto, confirmando a mesma suspeita já lançada pela intervenção da Srª Ministra no desenvolvimento do projecto do «túnel de Ceuta». Reforçada, a suspeita, pelas palavras ternas que o Sr. Presidente da República utilizou no discurso inaugural da Casa da Música sobre o mesmo talentoso musico.
Tudo isto se passa a poucos meses de eleições autárquicas, e gira supostamente em torno da «Cultura», assunto que invariavelmente reúne largos consensos patrióticos e comove toda a sorte de analfabetos. O cenário que se adivinha é enternecedeor e saído de uma opereta: de um lado, representando a cultura, o espírito e os valores da civilização, o imaculado pianista; do outro, um político insensível, bronco e inculto, obcecado com abjectas disputas de poder e com a frieza dos números. Por outras palavras, a luz contra as trevas, a civilização contra a barbárie, a cultura contra a bruteza.
Ora, consta por aí, que terá sido precisamente em torno dessa questão menor - os números -, que se terão iniciado os desentendimentos com Burmester. Os números a mais que ele terá gasto e aqueles que ele pretendia para si. Notas, portanto, mas não tanto notas de pauta, mas sim notas de banco. Nada que a paixão socialista pela cultura (como, outrora, pela educação), e os novos critérios do PEC não possam suportar.