Um indivíduo possui um conjunto de conjecturas, algumas são verdadeiras outras são falsas. Ele não tem nenhuma forma de saber com absoluta certeza quais são as verdadeiras e quais as falsas, embora confie mais numas do que outras. Algumas parecem-lhe 100% correctas enquanto outras lhe parecem mais duvidosas. E algumas das suas certezas estão completamente erradas.
Os indivíduos agem de acordo com as suas conjecturas. Normalmente os indivíduos usam o meio M para atingir o objectivo O. Mas fazem-no porque acreditam que o meio M serve para atingir o objectivo O, o que pode não ser verdade. Ou então, o meio M pode não ser o mais adequado ou o mais económico para atingir o objectivo O. O meio M pode até servir para atingir o objectivo O, mas à custa de outros objectivos que o mesmo indivíduo deseja.
A partir de uma conjectura errada dificilmente se pode tomar uma decisão correcta, pelo que os indivíduos, não sendo omniscientes, estão condenados a errar. Quando um indivíduo toma decisões sobre a sua própria vida com base nas suas próprias conjecturas corre os seus próprios riscos. Não coloca os outros em risco por causa das suas ilusões.
Um político não é diferente do comum dos mortais. É um indivíduo, com as suas conjecturas, algumas verdadeiras, outras falsas. Não sabe ao certo quais são as verdadeiras e quais são as falsas. E dificilmente poderá tomar decisões certas com base em conjecturas erradas. O problema do político é que ele tem objectivos mais ambiciosos, os quais dependem de conjecturas sobre o funcionamento do sistema complexo que é a sociedade. E para complicar ainda mais as coisas, o político arroga-se o direito de tomar decisões sobre toda a sociedade e não só sobre o que lhe diz respeito.
Devemos esperar que numa grande sociedade os erros cometido pelos indivíduos relativamente às suas próprias vidas se distribuam aleatoriamente. Isto é, numa determinada área de actividade, os indivíduos não cometerão todos o mesmo erro. Isto acontece porque todos os indivíduos têm um incentivo para diversificar estratégias e em cada área de actividade existirá sempre um incentivo para a adopção de estratégias minoritárias. As conjecturas erradas de alguns indivíduos afetam acima de tudo os próprios, e de qualquer das formas, são sempre compensadas pelas conjecturas correctas de outros indivíduos, pelo que o risco corrido pela sociedade como um todo é minimizado. Mas o mesmo fenómeno não ocorre nas decisões publicas. As decisões públicas tomadas pelos políticos são muito mais arriscadas porque implicam estratégias únicas para todo um país. Se a estratégia escolhida estiver errada, toda a sociedade sofre as consequências.
(continua)