12.8.05

Estratégias adaptativas e estratégias de negação

Perante a adversidade, há sempre dois tipos de estratégias possíveis: as de negação do problema e as estratégias adaptativas. Seguem-se alguns exemplos:

Problema: o petróleo está caro.


Estratégia de negação: subsidiar o petróleo.

Resultado da estratégia de negação: A conta de energia não diminui. Aquilo que era pago pelos consumidores passa a ser pago pelos contribuintes. Os agentes económicos ignoram o problema e continuam a agir como se o petróleo fosse barato.

Estratégia adaptativa: deixar o mercado funcionar.

Resultado da estratégia adaptativa: os agentes económicos desviam o consumo dos produtos com custos energéticos incorporados, o consumo de petróleo diminui.


Problema: Êxodo rural e inadequação das espécies florestais causam incêndios florestais incontroláveis.


Estratégia de negação: O estado investe no combate aos fogos, subsidia a replantação, compra madeira queimada.

Resultado da estratégia de negação: Agentes económicos ficam com um incentivo para provocar incêndios. Agentes económicos continuam a replantar as mesmas espécies de sempre da mesma forma de sempre.

Estratégia adaptativa: Deixar o mercado funcionar. Punir agentes económicos responsáveis por calamidades públicas.

Resultado da estratégia adaptativa: Os agentes económicos deixam de investir em espécies florestais que inevitavelmente vão arder. Área coberta com pinheiro e eucalipto diminui. Perigo público diminui. Agentes económicos desenvolvem as suas próprias estratégias de combate ao fogo, mais eficientes e mais adequadas a casos específicos.

Problema: Portugal é um país periférico.
Estratégia de negação: TGV e Ota.

Resultado da estratégia de negação: O preço da periferia é ainda maior porque se investe dinheiro em projectos que não são rentáveis. Os agentes económicos agem como se Portugal não fosse um país períférico. A conta total dos custos de períferia aumenta.

Estratégia adaptativa: deixar o mercado funcionar.

Resultado da estratégia adaptativa: Os agentes económicos desviam o consumo dos produtos com custos de periferia incorporados. Os agentes económicos descobrem formas inovadoras de lidar com a periferia.

Problema: Há escassez de aeroportos na área metropolitana de Lisboa (a Portela poderá saturar em 2015, ou não, tudo depende do tráfego futuro)

Estratégia de negação: Construir um novo aeroporto e fechar o antigo.

Resultado da estratégia de negação: Um aeroporto razoável é destruído. Perdem-se milhões de euros. Não se aproveita o que existe. Novo aeroporto detém monopólio do tráfego e está limitado a 30 milhões de passageiros. Escassez de aeroportos continua.

Estratégia adaptativa: Deixar o mercado funcionar. Liberalizar a construção e operação de aeroportos em todo o país.

Resultado da estratégia adaptativa: Os agentes económicos encontrarão as soluções mais rentáveis para lidar com o problema. Concorrência dos aeroportos de Porto e Faro e novos aeroportos na região centro e no Alentejo desviam tráfego de Lisboa. Novas formas de gerir o tráfego na Portela aumentam capacidade deste aeroporto.

Problema: O país é pobre, há escassez de habitação, as rendas são caras.

Estratégia de negação: Congelar as rendas

Resultado da estratégia de negação: Congelamento do investimento. Degradação das habitações. Falta de confiança na lei e nos contratos. Empobrecimento dos proprietários. Destruíção da poupança.

Estratégia adaptativa: deixar o mercado funcionar.

Resultado da estratégia adaptativa: Motivados pelo lucro, os agentes económicos poupam e investem na habitação. A economia cresce. A oferta de habitações novas aumenta. Com o tempo, cada vez mais pessoas passam a ter acesso a habitação de qualidade.