2.8.05

Medida emblemática III

O Pedro Santos Cardoso responde aqui ao meu post anterior. O Pedro parece não perceber algumas coisas essenciais:

1. Que a liberdade é a liberdade de cada um fazer o que entender com o seu tempo e a sua vida. É o direito de cada um trabalhar para os seus próprios fins.

A obrigação de cada um trabalhar para pagar impostos ao estado para que depois o estado possa subsidiar computadores não é liberdade. Não é por acaso que se diz que o estado quer incentivar o comportamento X. O estado só precisa de incentivar o comportamento X porque de outra forma as pessoas, tendo liberdade, prefeririam o comportamento Y. O que se pretende com esta medida é mesmo mudar os comportamentos que as pessoas teriam se pudessem gastar o seu dinheiro de acordo com as suas preferências.

2. Que a actividade económica serve para satisfazer os objectivos da procura. Que aquilo que cada agente procura depende da sua situação em particular. Que a situação particular de cada agente em particular é extremamente específica. Que só cada um é que pode saber de si. Que o estado não pode saber o que é que cada um precisa nas suas circunstâncias. Por isso, sempre que o estado incentiva o que quer que seja, está a deturpar a actividade económica, está a destruir os mecanismos naturais da economia e a introduzir atrito na aproximação entre a oferta e a procura. Claro que o Pedro não percebe este argumento porque vê a economia como uma actividade em que os agentes económicos são um rebanho de obedientes débeis mentais sem vontade própria dirigidos pelos sapientes membros do governo que tudo sabem e que tudo controlam.

3. Que o motor das economias modernas não é a tecnologia mas a liberdade económica, que é o que permite a adequação da oferta à procura. As tecnologias são apenas um meio, um meio entre muitos outros, um meio que pode, ou não, ser adequado à produção de bens que as pessoas procuram. O estado não tem que limitar a liberdade dos empreendedores impondo uma determinada solução para o problema de como melhor satisfazer a procura. Esse é um problema que tem que ser resolvido pelos empreendedores. É que nem sempre a solução tecnologicamente mais evoluída é a mais económica. O que conta, numa economia moderna não é a intensidade tecnológica, mas a adequação dos meios aos fins e a utilização tão económica quanto possível dos meios disponíveis. Uma empresa que substitua prematuramente meios arcaicos baratos por meios tecnológicamente sofisticados, mas caros, não optimiza os meios disponíveis e perde dinheiro.

4. Que as pessoas já compram computadores e que grande parte deste incentivo será gasto por pessoas que de qualquer das formas já iriam comprar um computador. É essencialmente por isso que a medida é inútil. Desviará recursos daqueles que não querem computadores (e que precisam desesperadamente de outras coisas) para aqueles que os querem, e estes últimos desviarão os 250 euros poupados para actividades que nada têm a ver com a sociedade da informação. Ou seja, com esta medida, o estado poderá estar a subsidiar viagens às Maldivas.

5. Que todas as leis discriminatórias discriminam todas as pessoas sem excepção que reunem a condição X. Se priviligiar as pessoas com filhos não é discriminação então podemos priviligiar todos os que falam português, que não moram na Cova da Moura, que têm mais de 25 anos, que são do Benfica, que trabalham na função pública ou que são do Partido Socialista. Aliás, a ideia de que todos podem beneficiar desta medida é falaciosa. Há quem não possa ter filhos por ser estéril, há quem não queira ter filhos, há quem já seja velho de mais para ter filhos e há quem já tenha computadore e não precise de mais nos próximos tempos.

6. Que aquilo que é necessário a cada momento varia de pessoa para pessoa e de circunstância para circunstância. Por incrível que possa parecer a alguns, a sociedade da informação não é uma prioridade para mais de 70% da população portuguesa. Para a maior parte das pessoas, um computador está no fim da lista de prioridades. E por muito boas razões.