É habitual ler-se e ouvir-se, de forma indignada, críticas a quem orienta a sua vida por um sentido religioso, sobretudo se professar a religião católica. A «ICAR», sigla que demorei a perceber não se referir a uma seita satânica, mas simplesmente corresponder à forma abreviada de Igreja Católica Apostólica Romana, é apresentada como uma organização reaccionária, uma espécie de força de bloqueio ao progresso científico e económico, e que mais não faz do que promover o fanatismo e a intolerância. A religião é ainda considerada uma limitação ao pensamento racional, sendo esta ideia frequentemente promovida por quem julga que norteia a sua vida apenas pelos ditames de uma mente esclarecida e verdadeiramente livre. Neste quadro, a renúncia à religião é exibida como uma condição de modernidade e progresso.
A natureza humana é ambivalente, num conflito permanente entre Razão e Emoção. Desde a Antiguidade Clássica que ambas as valências são apresentadas como fonte de conhecimento (v.g. Sócrates; Platão), embora valoradas de forma distinta, certamente. Mais recentemente, António Damásio procurou agregar Razão e Emoção numa só face, criticando quem afasta o lado emocional do processo de conhecimento.
O catolicismo representa uma forma de ver o mundo e a humanidade construída ao longo de mais de vinte séculos, num misto de Tradição, Fé e Razão. Cristo e a sua mensagem são dados a conhecer das mais diversas formas: através de um cântico, da contemplação da Capela Sistina, pela oração, na dor pela morte de um parente, mas também na leitura dos Evangelhos, nas Encíclicas Papais, nos mais diversos actos de pura reflexão.
Ateus, católicos, protestantes, agnósticos, benfiquistas, todos temos uma natureza complexa, somos uma síntese de corpo e espírito, de emoção e razão. E é através desta síntese que conhecemos e tomamos as nossas decisões. Curioso - e até divertido - é constatar que das pessoas que conheço muitos são os que julgam que viram as «Luzes», mas na sua conduta e na tomada das suas decisões estão sob grande influência do seu «lado lunar», afectivo e pouco racional, que marca de uma forma incisiva as suas personalidades. Triste é constatar que outros, livres daquilo que julgam ser a «sujeição a Cristo», vivem aprisionados e sem rumo, submetidos às mais diversas e verdadeiras escravaturas.
Rodrigo Adão da Fonseca