4.10.05

A invasão espanhola é positiva para a economia nacional

É muito popular a ideia de que Portugal deve utilizar estratégias proteccionistas para combater as empresas espanholas: manipulação dos concursos público, limites legais à entrada de empresas estrangeiras, manipulação das regras da concorrência, campanhas «compre português», subsídios às empresas portuguesas ...

Argumenta-se que os espanhóis não são nada liberais e fazem o mesmo. Os espanhóis também manipulam os concursos, também subsidiam, também impedem as compras das empresas nacionais por estrangeiros, também manipulam as regras da concorrência, também compram preferencialmente espanhol ...

Quem assim argumenta não percebeu completamente o argumento de David Ricardo contra o proteccionismo. O proteccionismo, mesmo o proteccionismo unilateral, prejudica sempre quem o pratica porque o país obriga-se a si próprio a pagar por um preço mais elevado pelos bens que consome.

Note-se que, numa jogada proteccionista há sempre um beneficiado, normalmente um grande industrial com poder político e muitos prejudicados, normalmente os consumidores que pagam mais caro por um produto. No caso dos subsídios ou dos concursos públicos os prejudicados são os contribuintes. Mas as perdas dos consumidores e contribuintes nunca superam os ganhos do grande insutrial porque a escolha proteccionista é sempre uma escolha subs-óptima.

O problema do proteccionismo é difícil de perceber porque a maioria das pessoas valoriza mais o acto de vender um produto do que o acto de o comprar e o acto de comprar uma empresa do que o acto de a vender. Ora, a venda de um produto tem tanta importância como a sua compra, as exportações são tão benéficas para uma economia como as importações e a venda de empresas portuguesas aos espanhós é tão benéfica, ou até mesmo mais benéfica, que a compra de empresas espanholas por portugueses.

Uma transação económica só se faz se as duas partes estiverem de acordo com ela. Eu só compro produtos espanhóis se achar que eles valem mais do que o dinheiro que eu dou por eles e os espanhóis só mo vendem se acharem que o meu dinheiro vale mais que o produto deles. Isto significa que em qualquer transação comercial existem vantagens mútuas.

Da mesma forma, os portugueses só venderão empresas aos espanhóis se acharem que o dinheiro que vão receber for superior ao valor das empresas. E os espanhóis só compram se acharem que a empresa nas suas mãos pode valer mais do que vale em mãos portugesas. Isto significa que a compra de empresas portuguesas por parte das empresas espanholas é duplamente positiva. Por um lado, os empresários portugueses recebem capital que renderá mais que as empresas que possuiam. Por outro, entram em portugal empresários que podem pôr as empresas portuguesas a render mais do que rendiam.