4.10.05

Nacionalismos de esquerda?

A esquerda é nacionalista?

Dito de outro modo, será verdade que certas "esquerdas" começam a descobrir, como bandeira política, o nacionalismo, a proclamação do "amor à pátria" (ainda que mitigadamente), a necessidade de afirmação de uma identidade nacional e um certo culto/tendência para a valorização da história pátria?

Pondo a questão ainda noutros termos: será que algumas das velhas bandeiras, "panos de fundo" e sensibilidades nacionalistas ou pró-nacionalistas típicas e tradicionais de uma certa direita anti-liberal, conservadora (e, entre nós, salazarista), passaram a ser agora adoptadas pela esquerda (ou, pelo menos, por algumas "esquerdas")?

Nota-se, por vezes, em certos pensadores (ilustres opinion makers) de esquerda, uma certa sensibilidade (por vezes, alguns desabafos) nacionais-proteccionistas .... Veja-se, por exemplo, a preocupação expressa por Vital Moreira, na sua crónica de hoje, no "Público", a propósito da liberalização do mercado da energia e do gás (link não disponível):

"(...) Que sentido faz então privatizar essas infra-estruturas, fora o propósito de realizar um encaixe financeiro? E vale isso a perda do controlo público sobre essas redes e o perigo de elas irem parar a mãos estrangeiras (designadamente, espanholas?)"

Claro que histórica e genéticamente, a esquerda nascida/saída da Revolução Francesa sempre foi nacionalista. Alguns dos pressupostos do tradicional pensamento e dos combates da esquerda histórica (vg., igualdade; legalidade) ancoram-se num edifício cuja estrutura essencial depende de um Estado(Nação) minimamente sólido e forte. A tradicional, quase epidérmica incomodidade da velha esquerda relativamente à integração europeia (ultra-liberal, para alguns!) ou face ao advento da denominada globalização, terá também muito a ver com tais estruturas, alicerces originais de pensamento (ainda que já pouco visíveis e muito soterrados pelo tempo).

Será que, nos tempos que correm, um certo nacionalismo de esquerda é resultado, afinal de contas, de uma instintiva tendência para proteger o Estado (qualquer "Estado", em concreto e mesmo um "mau Estado") a todo o preço?

Ou, pelo contrário, a defesa (e a imprescindibilidade) do "Estado" é consequência de uma instrínseca (e genética) vocação nacionalista?