13.10.05

O Candidato da Alegria Esfusiante

Foi hoje. O candidato da felicidade suprema oficializou a sua candidatura a Belém.

A cerimónia de canonização do candidato da energia destemperada estava prestes a começar e a jornalista ouvia Cláudio Torres, que especulava sobre a qualidade dos candidatos. Falou no Doutor Mário Soares, no Doutor Francisco Louçã e no cavaco. Sim, o Cláudio disse cavaco com letra pequena. Eu ouvi.

Depois, a jovem mandatária Joana Amaral Dias explicou que o seu apoio a Mário Soares se baseia nas opiniões avalizadas do ex-presidente e futuro ex-candidato a bi-presidente. Parece que Joana admira muito o pensamento moderno de Mário Soares sobre os desvios na construção do modelo social europeu e o seu incansável combate à globalização capitalista neo-liberal que se expande encavalitada num selvagem capitalismo neo-con, aprofundador das desigualdades norte-sul e causador da pobreza por toda a galáxia. A Joana também apoia o Bloco e o candidato da luz brilhante. Pelo que percebi, nesta caminhada eleitoral, a Joana dá para os dois lados.

Logo, o famoso advogado Nabais explicou que o candidato do Bloco de Esquerda não é só o candidato do Bloco de Esquerda porque é também o candidato do advogado Nabais que apesar de apoiar o candidato do Bloco de Esquerda não é do Bloco de Esquerda.

O momento do êxtase veio logo a seguir. O candidato da palavra entusiasmada tomou a palavra e entusiasmou-se. E disse: "É a vida!". E explicou-nos, com a convicção de quem domina a coisa populista, que o populismo esvai a democracia. E o regime está podre e disse: "É a vida!". E vivemos num cinzento nevoeiro que envolve os moles consensos e as negociatas do Bloco Central e disse: "É a vida!". E o candidato da esperança sebastiânica falou em modorra, arrastando os erres para nos demonstrar quão prolongada é a modorra, e disse: "É a vida!"

O candidato da razão presente tem propostas. Quer aumentar os impostos sobre as empresas para poder baixar a idade da reforma. Para alegrar os artistas ofuscados pelo brilho do discursante, o candidato da cultura vanguardista prometeu mais dinheiro para a Mísia, para o Tordo e para o Camané. E disse: "É a vida!". E no fim, o candidato da esquerda moderna perorou contra o liberalismo ganancioso. Não se esqueceu do ambiente e explicou que já estamos 14,3% acima nos dióxidos, 11% nos carbonos e 7,3 para lá de Kyoto. E disse: "É a vida!".

E o candidato da persistência inabalável garantiu que nunca desiste. E que vai até ao fim. E nós aplaudimos. E também temos promessas. Prometemos muitos, muitos posts. É o candidato da vida brotante que nos dá inspiração bloguística a cada discurso e força de vontade a cada sound-byte.

Por isso gritamos: viva o candidato Anacleto Louçã. Viva! E por favor, não nos desiluda. Por favor, vá até ao fim.