Não é óbvia a matriz religiosa no pensamento liberal. Como chamar religioso a um pensamento que põe no ?indivíduo? a tónica? Para a entendermos, mais uma vez teremos de ?levantar o véu? e reconhecer os subterrâneos do texto liberal. A religiosidade no liberalismo assenta em três dogmas:
1- A perfeição das organizações: para os liberais, o modelo organizativo da sociedade humana actual, longe de ser circunstancial ou determinado, resulta da prossecução do projecto essencial do Homem. É o ?ímpeto? imparável da Evolução. Os liberais são darwinistas dentro do sistema, porque entendem que este se regenera através da competição, em que sobreviverão os melhores, mas são hegelianos fora dele, uma vez que são incapazes de aplicar o seu darwinismo à estrutura geral do modelo organizativo. Daqui resulta do seu discurso que só aparentemente é adaptável- o modelo vêm-no como fixo.
2- A infalibilidade do individuo: é claro que os liberais não supõem que os actos de cada indivíduo são infalíveis, mas julgam reconhecer a infalibilidade nas acções do conjunto geral das formas organizativas do indivíduo. Daí que o seu projecto seja permitir a livre competição entre indivíduos, ou organizações de indivíduos, uma vez que o resultado final dessa competição será sempre positivo. Imersos nesta semi-religiosidade, os liberais são incapazes de entender que nas organizações humanas a estrutura de poder é assimétrica.
3- A positividade da empresa: É curioso, mas os liberais vêm a perfeição nesse modelo que é a ?empresa?, quando falam das ?empresas? adoptam um tom divinatório, convencidos de que as ?empresas? irão resolver ?os problemas? se puderem simplesmente ?ser empresas?, operar. Isto é a ontologia da empresa, assim mesmo com estas palavras.
19.10.05
Os liberais vistos pelos seus inimigos
Ou porque é que 2+2=5: