6.11.05

Eixo do Mal ou como viver amarrado no complexo ideológico

Ainda ninguém me viu comentar aqui no Blasfémias os acontecimentos de França. Em grande medida, porque ainda estou a tentar perceber bem o que lá se passa. O que temos assistido é à revolta de um conjunto de pessoas contra algo que ainda não se sabe bem o que é. Serão actos de mera delinquência? Serão motivados por razões socio-económicas? Serão razões religiosas ou culturais as que levam jovens a incendiar os carros dos vizinhos e autocarros dos serviços de transporte colectivos? De que é que estamos a falar em concreto? Com franqueza, não sei, e não me parece que nesta fase alguém seja capaz de ser inequívoco no diagnóstico.

Ups, erro meu. Afinal, no Eixo do Mal, dois comentadores residentes sabem exactamente o que se está a passar. É impressionante a simplicidade da abordagem da Clara Ferreira Alves e do Daniel Oliveira: o que há é repressão social, carga policial, aproveitamento do governo para disputar o eleitorado xenófobo da extrema direita...

Depois de em Outubro exibir um profundo conhecimento sobre a realidade sociológica dos bairros de Aldoar, no mês de Novembro Daniel Oliveira internacionaliza o seu saber e apresenta-nos com uma certeza quase criacionista os porquês da violência em França.

Que raio de Estado de Direito defendem Daniel Oliveira e Clara Ferreira Alves, onde os emigrantes, os pobres e todos os que vivem em bairros periféricos, normalmente classes médias, e que se esforçam por respeitar as regras de convivência em sociedade, que lutam por uma vida melhor com sentido de cidadania, têm de sujeitar-se a viver com medo, assistindo à destruição do seu património, do espaço urbano que habitam, enquanto os opinion makers se dedicam a encontrar causas desulpabilizantes para as conductas dos que promovem a violência. Um discurso ideologicamente complexado, e que é incapaz de conjugar com clareza «Não à Violência, Não ao Medo».

A Europa tem um grande desafio pela frente, de integração dos seus emigrantes e dos seus filhos num ambiente que se deseja plural e multicultural. Mas respeitando-se sempre os valores fundamentais para que uma comunidade funcione: Segurança, Liberdade, Propriedade. A violência e a tentativa de afirmação das ideias pelo medo deve sempre merecer a nossa censura. Sempre.

Rodrigo Adão da Fonseca