Imagine que o seu carteiro é um homem diligente. Todos os dias, antes de entregar o serviço diário, examina diligentemente a sua correspondência e selecciona cuidadosamente uma parte que lhe entrega e outra parte que tem como destino imediato o ecológico papelão da zona. Os objectivos que norteiam o comportamento do seu carteiro são os mais nobres. Simplesmente, não quer aborrecê-lo com publicidade indesejada ou com desinteressantes catálogos.
Por vezes, no meio do expediente, aparece uma qualquer missiva que o deixa indeciso. Será que é boa nova ou má nova? Entrega-se ou descarta-se? Para responder rapidamente às dúvidas causadoras de indecisão, o senhor carteiro inventou um critério. Assim, de cada vez que rejeita uma dessas inconvenientes publicidades, regista o código postal do remetente. Daí para a frente, tudo o que tiver sido enviado de tão maligna origem, é papel para reciclar.
Agora, imagine o leitor, que a sua querida mamã mora mesmo ali ao lado das Colecções Millae, e tanto a querida senhora como a maçadora empresa de vendas ao domicílio utilizam a mesma estação dos correios. Subitamente, as cartas da mamã passam a ter todas como destino o tal papelão ecológico da zona.
Claro que, assim que descobre o que se está a passar e que as boas-novas da família deixaram de chegar, o indignado leitor contacta imediatamente os CTT.
E os CTT não perdem tempo a esclarecê-lo: "Ah, não temos nada a ver com isso. Isso são coisas do carteiro. Tem a certeza que a sua mãezinha não é vendedora de Viagra? Olhe, diga à sua mãezinha para enviar as cartas de outro lado. Ou então faça um requerimento em papel azul de 25 linhas. Olhe, fale você com o carteiro que a gente não quer saber disso."
Ficção? Não. Troquem CTT por Netcabo e têm uma descrição do que se passa actualmente com os emeiles deste provider. A Netcabo decidiu que a Spamcop passaria a filtrar os emeiles que os seus clientes recebem. A Spamcop é competente. Reconheça-se, é raríssimo aparecer lixo nas caixas de correio da Netcabo.
Mas acontece que a Spamcop é absolutamente cega e usa uma lista de IPs para seleccionar o que é bom e o que é mau. Aparentemente, cada vez que detecta um bulk mail ou certas palavras chave por todos bem conhecidas, adiciona o IP do remetente à sua lista negra. E de vez em quando agarra quem não deve. E agora agarrou um grupo de utilizadores do Gmail.
E portanto, para a Netcabo, não passo dum malandro dum spammer. Estou proibido de enviar e-mails para clientes Netcabo, o que me impede de contactar, entre outros, a mim próprio, um dos primeiros clientes da Netcabo. Em Setembro, aconteceu o mesmo. Durante uma semana estive impedido de enviar trabalho para casa por e-mail e muitos conhecidos acreditaram que eu lhes mentia quendo dizia que "o emeile já seguiu". Ao fim de inúmeras queixas a situação normalizou-se.
Hoje, a situação repete-se. E a resposta da Netcabo é muito interessante: parece que sou eu que tenho que desinibir os IPs. O problema não tem nada a ver com a Netcabo. É da Spamcop.
Já estou cansado e farto de gastar saliva a explicar às simpáticas e pacientes meninas do serviço de apoio a clientes que a Netcabo não pode ter o direito de decidir pelos seus clientes o que é spam e o que não é. Afinal, quem lhes deu o direito de me impedir de ser um legítimo tarado expectante com o próximo anúncio de penis enlargement? Já imaginaram como posso ficar absolutamente desconsolado com a ausência de notícias sobre ginásios de musculação assistida no Brasil?
A Netcabo é que continua a não compreender. Acha que está a fazer muito bem ao livrar os clientes do contacto com gente indesejável. A Netcabo corta os pénis, digo, os emeiles sobre os pénis. E ao mesmo tempo corta dezenas de emeiles normais que pessoas que nunca pensaram sequer em alargar as pendurezas.
Como é óbvio, não sou a única vítima da aliança Net-cop. Tenho é pouca paciência para empresas palermas. Por isso, peço desculpa aos meus amigos, mas em breve vão ter que mudar o meu emeile nas vossas agendas.
«Do site da TVCabo: A NetCabo utiliza o SpamCop, uma listagem de endereços bloqueados devido à prática de "Spamming", para filtrar a utilização abusiva no sistema de e-mail. Cada vez que um e-mail passa nos nossos servidores, o IP do remetente é verificado na listagem da SpamCop e se este estiver catalogado como um endereço potencialmente "Spammer", a mensagem é imediatamente bloqueada. Existem mecanismos de segurança que permitem limitar bastante a capacidade de fazer "Spam". Os servidores de e-mail da NetCabo estão devidamente protegidos para que apenas os seus clientes consigam utilizar os nossos servidores para enviar ou receber e-mail (através das nossas redes de IP). Assim fica limitado o âmbito de utilização do e-mail da NetCabo a um universo definido de utilizadores.»
