3.11.05

O Fim-de-Semana Prolongado

1. A Casa da Música - Gostei muito da visita, suportada por um competente cicerone. A Casa da Música, quase inabitada, é excelente para bater umas chapas. Exceptuando meia dúzia de pessoas no bar e mais umas quantas que marcaram a visita das 6 da tarde, a Casa da Música pareceu-me um belo local para passar uma tarde sossegada.

Só falhou um detalhe. Depois da forte contribição que os meus impostos deram à obra, estava convencido que aquilo também era a minha casa e que me iam receber de braços abertos. Afinal, cobraram-me mais 2 euros pela visita.

2. Vi o Prós e Contras e fiquei cheio de medo. Vem aí o papão, vem aí a noite escura. O mundo está perigoso, vota Soares. Vital Moreira dixit.

3. O que aconteceria a um pacato cidadão português que abandonasse um automóvel em estado de sucata a 200 metros de um monumento nacional? Depende. Se um normal pagador de impostos se atrever a estacionar uma lata velha nas traseiras dos Jerónimos, e se esquecer de a ir buscar nos meses seguintes, não terá sorte nenhuma. Mais tarde ou mais cedo, ao ritmo imposto pela baixa velocidade das burocracias estatais, a lei actua. O cidadão normal pagador de impostos terá que arcar com as culpas do seu gesto anti-social.

Nem sempre é assim. Se o cidadão em causa fizer parte de uma etnia minoritária nómada em processo de sedentarização, vivendo na economia paralela e com a maioria dos familiares bem enquadrada no RSI, a coisa já é bem diferente.

Os habitantes de Celorico da Beira que o digam. Há alguns anos começaram a aparecer os chassos que ocuparam os poucos lugares disponíveis numa rua circundante ao castelo, monumento nacional. Hoje já são mais de 20. Carrinhas que servem de armazém de material para venda em feiras, carros sem rodas, carros sem faróis, carripanas amolgadas, bem acompanhados por máquinas de lavar velhas, carcassas de frigoríficos, armários e móveis vários, e lixo, lixo, lixo, muito lixo e ainda mais lixo. Agora, também se juntaram as barracas, montadas no pressuposto da troca breve por casa gratuita, algo que os membros da etnia minoritária nómada em processo de sedentarização acham ter direito porque viram na televisão que a sorte sorriu a alguns primos que noutros lados montaram barraca e saiu-lhes casa.

Uma absoluta vergonha terceiro-mundista. E a autarquia não fez nada? Não. Absolutamente nada. É que fazer cumprir a lei, por vezes, pode significar uma terrível acusação pública de racismo nas televisões nacionais. Ou, pior ainda, o presidente que tentar acabar com a lixeira ao ar livre pode ter que aturar bloquistas. Apesar de tudo, é mais fácil ignorar as queixas sistemáticas de inúmeros celoricences e a degradação evidente de uma área situada mesmo ao lado do centro histórico, nas traseiras do publicitado Solar do Queijo da Serra. E por alguns motivos e por este também, o senhor presidente é agora ex-presidente. Nas redondezas do zona afectada, ninguém lhe deu o voto.

E já só restam dois motivos para consentir em tamanha porcaria: ou absoluta incompetência, ou medo da etnia minoritária. E para o nóvel presidente da câmara de Celorico da Beira, também já só restam duas hipóteses. Ou acaba rapidamente com a situação, ou se demite.