Aqueles (e são muitos) que afanosamente se empenham em macular o sistema político português, pondo, inclusivamente, em causa a qualidade da nossa democracia, bem assim como a efectividade do Estado de Direito, bem podem meter a "viola no saco", perante exemplos de «transparência» como aquele que hoje foi noticiado pelo "Expresso" e desenvolvido pela SIC.
Desenganem-se! Temos um sistema com "paredes de vidro"! Mais transparência é difícil, no quadro das democracias ocidentais. E ainda mais: uma justiça que, não descurando o cidadão e o respectivo nível de informação (sem dúvida, um índice de cidadania) deixa que o público em geral, todos nós, partilhemos as démarches das investigações.
Qual segredo de justiça?! - esse instituto retrógado que, bem vistas as coisas, entre nós, mais se assemelha, «democraticamente», a um coador; qual protecção da privacidade e discrição, até mesmo em assuntos de governação e de Estado?!
Já não é a primeira vez (ultimamente, têm sido muitas, atestando o caracter efectivamente transparente e «progressista» da nossa democracia e do nosso Estado de Direito) que o povo português é informado, com relativo detalhe, do conteúdo de escutas telefónicas; já não é a primeira vez que assuntos, informações que deveriam ser da guarda exclusiva e solene das autoridades policiais e da instituição judicial, são «democraticamente» partilhadas pelos portugueses.
Por isso, talvez, já ninguém estranhe muito, nem reaja, não dando o devido valor ao facto de viver num país em que até as conversas telefónicas entre membros do governo, ou então, envolvendo assuntos de governo (que não contêm, sequer, matéria de relevancia criminal, directa ou indirecta) são divulgadas, no meio de uma enxurrada de informação pública sobre uma investigação em curso!.
PS - nem prestei atenção - perante tamanha dádiva de informação que, sem dúvida, reforça a minha cidadania! - ao assunto concreto daquilo que parece ser a notícia em causa (proposta de substituição - ou não -, antes do fim do mandato, do Procurador Geral da República). Não é isso (a bondade da proposta ou intenção, a sua veracidade, a sua inadequação) que, agora, discuto....