20.6.06
Esquerda contra a igualdade II
Daniel Oliveira faz mais uma exibição de bons sentimentos neste post. Todos somos a favor da democracia, do bem estar dos trabalhadores e contra a escravatura. Nos bons sentimentos estamos todos de acordo. No que Daniel Oliveira falha é na análise dos factos, na teoria económica, na comparação entre as alternativas à disposição do cidadão chinês. Lembro que na vida real as pessoas têm que escolher entre alternativas possíveis e não entre o real e o ideal. Como eu tinha explicado anteriormente, a China tem escassez relativa de capital pelo que a abundância absoluta de capital ou o consumo absoluto de petróleo que o Daniel alega são irrelevantes. A China até pode ter em termos absolutos muito capital, mas acontece que a China também tem 1 600 milhões 1 300 milhões de habitantes pelo que o capital disponível per capita não é suficiente. E o que deve contar para a análise é o capital per capita porque é esse que deve gerar o rendimento para cada chinês. Segue-se que os salários são baixos porque existe uma enorme oferta de mão de obra e uma pequena quantidade de capital que o tornem produtivo. Segue-se finalmente que a escolha dos chineses não é entre salário de $50 e salários de $1500, mas entre um salário de $50 e a agricultura de subsistência. (Ao contrário do que o Daniel alega, não há provas de escravatura no caso do Ipod porque as condições de trabalho descritas são melhores que aquelas que os chineses têm nas zonas rurais). O Daniel bem pode atacar as terríveis multinacionais, mas não se percebe em que é que isso vai ajudar os cidadãos chineses. Os cidadãos chineses não vão ter melhores condições de trabalho se não tiverem mais nenhuma opção para além da agricultura de subsistência. E um eventual redução do investimento externo na China só vai retardar o desenvolvimento de uma sociedade civil independente capaz de lutar pela democracia. É bonito ser pela democracia, mas todos somos. Já não é bonito fazer tudo para boicotar o acesso dos cidadãos chineses a melhores empregos, a novas ideias e a uma maior independência do Partido Comunista. Mas é para boicotar tudo isso que o Daniel contribui quando ataca o investimento estrangeiro na China sem perceber que na sua ausência os cidadãos chineses ficariam pior e não melhor.