22.6.06

timor

«Tenho vergonha pelo que o Estado está a fazer ao povo e eu não tenho coragem para enfrentar o povo», disse hoje Xanana Gusmão, anunciando a sua intenção de se demitir da Presidência da República de Timor, por se sentir incapaz de resolver a grave crise política do país. Do outro lado, Mário Alkatiri recusa a abandonar o cargo de Primeiro-Ministro, apesar do pedido que nesse sentido lhe foi feito por Xanana, nos termos da Constituição. No bom estilo soviético, Alkatiri ocupou o poder e recusa-se a largá-lo, fundamentando a sua autoridade no comité central do partido. Também ao bom estilo soviético, pairam no ar envenenado de Timor rumores sobre «ameaças imperialistas», interesses financeiros ao serviço dos quais estará Xanana, etc. O filme é conhecido, embora seja já pouco comum. Afastado do mundo nos últimos trinta anos, Timor é hoje uma espécie de santuário ecológico político, que conserva uma fauna saída da guerra-fria e do pior comunismo soviético. A independência conquistada graças à resistência de Xanana e de meia-dúzia de guerrilheiros, grande parte deles caídos em combate, irá acabar inevitavelmente numa guerra civil fratricida, caso a comunidade internacional não intervenha duramente. Para este resultado, quase apetece dizer que mais valia ter lá deixado a Indonésia.