20.6.06
Esquerda contra a igualdade
A esquerda tem-se revelado a mais feroz opositora da igualdade e a maior força a favor da manutenção das desigualdades. Tomemos o exemplo de Daniel Oliveira. Daniel Oliveira está preocupado com os baixos salários e os horários de trabalho de 80 horas por semana praticados na China. Uma preocupação louvável. Poderiamos até pensar que o Daniel, sabendo que os baixos salários se devem à relativa escassez de capital nos países pobres, seria a favor do investimento estrangeiro na China só possível à custa da transferência de capital dos países ricos para os países pobres. Só que, em vez de louvar a Apple pelos investimentos já feitos, em vez de pedir à Apple mais investimentos na China, o Daniel parece estar zangado com a Apple por ela comprar produtos made in China. Mais interessante é que quando se discute o caso da Opel de Azambuja, o Daniel já não está preocupado com o trabalhador chinês ou russo. O Daniel parece muito mais preocupado com o trabalhador português que ganha 750 euros por mês e que seria prejudicado com a deslocalização da Opel do com o trabalhador russo ou chinês que ganha 50 dólares por mês e que veria o seu salário subir se a Opel fosse para o seu país. A esquerda, apesar da retórica igualitária, é, ironicamente, contra a transferência de capital dos países ricos para os países pobres, aquele que é nos dias de hoje o mecanismo mais eficaz de redistribuição de riqueza e de promoção da igualdade.