3.3.05

AINDA O PADRE DO ANÚNCIO

Paradoxalmente concordo com o João Miranda.
Embora entenda que o padre franciscano quis dar nas vistas e criar um "caso", julgo que aquilo que diz no (caríssimo) anúncio no Público e na entrevista que deu à televisão corresponde ao âmago da visão católica acerca do mundo contemporâneo.
Por isso, estranho muito a propalada intenção da hierarquia da igreja de «admoestar» o clérigo que ousou falar verdade.
O padre está bem, a hierarquia está como sempre: hipócrita.
Do mesmo modo, concordo que ou se é católico ou se opta por não o ser.
Ser católico não significa uma adesão meramente individual a uma certa forma de encarar o sagrado e a uma crença divina - ser católico é aceitar como verídicos um conjunto de dogmas, é estar adstrito a uma série de deveres religiosos e sociais, é concordar com os ditames da organização que centra esse culto e lhe define as regras. Não o fazer ou quere exercer essa crença de modo diverso é renunciar fatalmente à classificação de "católico".
Tal como o João Miranda não percebo a lógica da imputação de "católico não praticante". Isso é uma mascarada. Uma forma das pessoas que não desejam perder o estatuto de "normalidade" num país maioritariamente católico significarem que aceitam vagamente a crença mas recusam muita da carga ridícula que esta comporta, nomeadamente no que tange às teses da ICAR acerca dos comportamentos sociais e sexuais.
Ou, por exemplo - no que tange a tantos "liberais" portugueses -, aceitar a doutrina social da igreja e pretender fazer a quadratura do círculo em a compatibilizar com a escola austríaca ou outras versões ainda mais extremas do liberalismo económico. Tudo isso são falácias, conscientes ou não.
É tempo das mulheres portuguesas (sobretudo) assumirem o que fazem naquilo que dizem
ser. Se são católicas, então façam o que diz o padre do anúncio: não usem a pílula, muito menos a do dia seguinte, nem o DIU, nem qualquer outro dispositivo ou meio contraceptivo. Nem abortem. Ou abstenham-se de praticar sexo se não forem casadas.
Se as mulheres portuguesas não seguirem estas determinações comportamentais não serão católicas, como afirma a igreja e repetiu o padre do anúncio; mas se livremente continuarem a optar por terem o estilo de vida que escolheram para si mesmas estarão humanamente engrandecidas e serão, certamente, mais felizes.