Da autoria de Raymond Boudon, o livro "Pourquoi les intellectuels n´aiment pas le libéralisme" (2004) foi publicado em competente tradução portuguesa "Os intelectuais e o liberalismo", pela editora Gradiva, Lisboa, Fevereiro de 2005 (edição analisada).
O autor, que manifesta uma assinalável facilidade e clareza de escrita, centra a sua preocupação na crítica aos pensadores e às ideias que classifica como "iliberais". Sobre a sua própria filosofia, é dada conta, entre outros passos, na pág. 19, na qual se pronuncia sobre Rawls e sobre Hayek, em termos mais favoráveis ao primeiro, a propósito do conceito de "Justiça social". O rol de autores que qualifica como liberais poderá, pelo seu lado, ser sujeito a controvérsia.
Para R. Boudon, a "teoria da conspiração" seria um modelo frequentemente utilizado por pensadores influenciados por Marx ou por Nietzsche, ou seja, pelos conceitos de "luta de classes" ou pela "vontade de poder", respectivamente. Boudon disseca tendências de pensamento tais como o relativismo ou o culturalismo, em algumas das suas vertentes.
Particularmente interessante é a secção do livro "Nas fontes da intolerância", na qual se explica (pág. 86) como se compreende que "a desvalorização do saber possa ser acompanhada de uma sobrevalorização da moral".
A parte mais controversa da obra será provavelmente aquela onde o autor se pronuncia sobre a "Cultura". Partindo do princípio segundo o qual a procura de obras de arte é presentemente superior à oferta, aplica a este caso a "Lei de Gresham" ("a má pintura expulsa a boa pintura", pág. 110)
A razão pela qual o liberalismo se manifesta de forma fraca, a nível de partidos políticos é, para R. Boudon, a seguinte: "o liberalismo é vítima do seu sucesso" (pág. 121).
O livro termina sugerindo uma leitura correcta dos deveres do Estado, segundo Adam Smith.
Poderá sugerir-se, para acompanhar a leitura desta obra:
- F.A. Hayek. Intellectuals and socialism. Um curto ensaio sobre tema conexo.
- A. Bloom. Closing of the American Mind. Trabalho de fundo, versando, entre outros aspectos, a influência do pensamento de Nietzsche no meio cultural e académico (Tradução portuguesa: A cultura inculta. Edições Europa-América.)
José Pedro L. Nunes