11.3.05

Casttels e o desenvolviemnto estatístico

Devemos esperar que num planeta com 6 mil milhões de habitantes, o nicho de mercado do desenvolvimento tecnológico seja dominado por uma dúzia de regiões. Mas a tecnologia é apenas um nicho de mercado. Não é a panaceia para todos os problemas, nem a solução para todos os países. Um país pode perfeitamente participar de forma muito proveitosa da divisão do trabalho a nível mundial sem ser particularmente tecnológico. Quando Castells fala da Finlândia e de Singapura, esquece-se, ou por vezes parece esquecer-se, que estes foram os casos de sucesso. Os casos daqueles que conseguiram posicionar-se bem no nicho tecnológico, mas que antes de lá chegarem já eram ricos e para lá chegarem passaram por fases de desenvolvimento tecnológicas muito mais low tech. Nada garante que a solução para outros países seja a imitação destes casos de sucesso. A verdadeira inovação está na descoberta de novos nichos de mercado e não na imitação dos casos de sucesso de um nicho de mercado em vias de saturação.

Não nos devemos surpreender que, como diz Castels, nos países em que o Estado adoptou um modelo neoliberal não tenha havido qualquer avanço em direcção aos objectivos da estratégia de Lisboa. Não houve, nem tem que haver porque a agenda de Lisboa é um remendo político para os entraves à competitividade da economia europeia. Há duas maneiras de resolver o problema da falta de competividade. Uma é através de reformas do estado corajosas e difíceis que transfiram os problemas para a iniciativa privada. Outra, é alimentando o monstro estatal de tecnologia para ver se ele funciona melhor.

Nos países em que o estado adoptou mesmo um modelo liberal, não devemos esperar que os obectivos da agenda de Lisboa sejam atingidos porque o mercado estará mais preocupado com a satisfação das necessidades reais das populções do que com estatísticas de desenvolvimento. É natural que os agentes económicos sejam muito mais pragmáticos e que em vez de tentarem imitar a Finlândia reinventando a roda se limitem a aproveitar no seu próprio contexto as soluções desenvolvidas pelos Finlandeses. Na maior parte dos casos, o que as pessoas precisam é de soluções lowtech para os seus problemas e não de grandes avanços tecnológicos. O uso de tecnologias existentes de novas formas é também uma forma de inovação, só que não causa grande espanto nem dá direito a estudos académicos.