8.3.05

Destruição criativa

Entrevista a Daniel Bessa:

E o desemprego?

Vai continuar a aumentar. Diria mais. Se a economia portuguesa seguir no bom caminho passaremos por um período de aumento do desemprego. Se se mantiver este modelo de águas mornas, talvez diminua. O perigo maior que Portugal corre é de se tornar numa espécie de Sicília. Proteccionista, muito dependente do Estado, pouco liberal, pouco aberta, com pouca concorrência ou espaço para o mérito e para a afirmação. Todos sabemos a rota descendente que a Sicília cumpre e cumprirá enquanto continuar assim. A minha convicção profunda é que, se as coisas correrem bem, o desemprego aumentará.

Sicília é sinónimo de máfia?

Não queria chegar tão longe. Refiro-me a um modelo proteccionista ao extremo, onde para tudo há um padrinho... Muitos portugueses vêem no Estado o padrinho e o que pedem é protecção.

Aumento para quanto?

Não sei, mas não estou a inventar nada. Os países que seguiram trajectórias mais afirmativas e ganhadoras fizeram-no com aumento do desemprego a curto prazo. A Espanha pagou um preço elevadíssimo e hoje é o que é. A Irlanda, onde hoje temos talvez o melhor resultado da Europa nas últimas décadas. Um dos maiores economistas de todos os tempos, Joseph Schumpeter, defendeu uma das teses mais válidas - a da destruição criadora. Não é possível criar sem se destruir algo. Pode ser politicamente incorrecto, mas não há colega meu nenhum que chegue a ministro da Economia ou das Finanças que não o saiba. Pode não o dizer, mas aprendeu nos bancos da escola e com a vida que é assim. Essa é a força do capitalismo, a coragem de romper e de destruir para criar. A Sicília não destrói, mas também cria muito pouco.