4.3.05

O que é, para mim, ser católico hoje

Nos últimos dias, o país mediático e bloguítico anda entretido a comentar um anúncio publicado por um sacerdote franciscano com uma certa ânsia de protagonismo. Sem paróquia, o Padre optou por recorrer à plateia mediática para difundir as suas ideias. No fundo, este padre adoptou a estratégia anacleta de difusão da mensagem: por falta de púlpito, utilizou os media como megafone para a sua auto-promoção...

Ateus militantes e sectores da esquerda intelectual aproveitaram a ocasião para - a par dos simpáticos comentários sobre a doença de João Paulo II - demonstrarem o seu afecto e amizade pelo fenómeno religioso e, em especial, pelos católicos. O Barnabé foi o que conseguiu ter o humor mais requintado e carinhoso. Adorei a imagem do Papa a beber por uma palhinha e a andar de gatas sozinho. Ainda não consegui parar de rir! E que grande ternura e respeito pela doença e pela velhice aí se manifesta! O nosso amigo Nuno Sousa é, de facto, uma das maiores certezas do humor nacional, um talento escondido que agora se revela... Todos os velhinhos doentes da blogosfera devem ter amado esta imagem!

Ser católico nos dias de hoje significa aceitar que a nossa condição, à luz dos outros, é a de uma certa menoridade intelectual, por não termos a capacidade de seguir os verdadeiros desígnios da Razão. Significa, ainda, acharmo-nos limitados na nossa suposta existência humana, por não sermos capazes de aspirar aos "prazeres" absolutos, amarrados que estamos aos "estigmas" da Religião; significa, ainda, termos de assistir, impávidos e serenos, à incapacidade de uma certa corrente ateia, que não separa o universo do sagrado e do profano, de respeitar a esfera católica. Implica, ainda, sujeitarmo-nos à censura alheia, sempre atenta às incoerências que a prática católica acarreta, por ser assumida por homens e mulheres, cuja natureza - como a de todos - é imperfeita.

Será que me importo? Nada. Porque sou católico em plena liberdade de espírito. Porque sigo uma mensagem de esperança, de construção interior, procurando diariamente melhorar as minhas imperfeições. Porque esta é uma batalha minha, na qual faço o meu caminho. Cristo também foi insultado quando carregava a sua Cruz para ser crucificado. Em silêncio.

Vivemos hoje tempos difíceis; nunca houve tanto, mas, ao mesmo tempo, nunca estivemos, como sociedade, tão infelizes e insatisfeitos. Afinal, o progresso material e o acesso irrestrito ao universo das coisas mundanas não trouxeram mais felicidade terrena.

Um certo mundo mediático e a esquerda do tipo barnabaico podem ironizar com a Fé católica. Podem, até, extrapolar os actos excêntricos de um pobre Padre. Podem, ainda, ridicularizar o Papa João Paulo II, a Irmã Lúcia, e todas as figuras da Igreja. Os meus companheiros de bancada, JM e CAA podem desabafar as suas incompreensões quanto a certos dogmas da religião.

Em todas estas manifestações, porém, ignoram aquilo que é a verdadeira essência do Cristianismo, razão de uma longa vida, apesar das vicissitudes históricas, de dois milénios: uma mensagem de Esperança, que se renova, pois assenta na permanente entreajuda entre os homens e mulheres, na sempre necessária promoção de virtudes humanas cristãs, no recato do conforto na dificuldade; porque não se esgota em palavras vãs, mas em actos diários, visíveis ou discretos.

Enquanto o mundo Racional idealizava modelo utópicos, sem que o seu ópio fosse suficiente para aliviar a dor, antes conduzindo à destruição e à morte de povos inteiros e de culturas centenárias, o Cristianismo, na sua menoridade intelectual e na incongruência dos seus dogmas, disseminou-se, a partir de esforços individuais e colectivos, na construção de um mundo melhor, movido pela bondade que existe no coração dos homens.

Como todos, tenho os meus dias. Como todos, tenho as minhas falhas, algumas delas, enormes. Mais do que enfatizar modelos estereotipados de homens e mulheres dotados de características quase-divinas, o exemplo católico, hoje, deve ser o do cidadão comum, a quem os outros reconhecem um esforço de melhoria constante, de construção interior baseado nas virtudes cristãs, de dedicação aos outros, portadores de uma mensagem de Esperança. Cristãos no Mundo; não Cristãos do Outro Mundo. Cristãos que digam que, na dificuldade, são felizes em Cristo. Eu sou feliz. Sempre o fui, desde a minha infância. Sempre vivi em plena liberdade de espírito. Por isso sou liberal. Por isso sou católico. Esta é a minha mensagem. Este é o meu modo de ver as coisas. Aguardo calmamente pelas caricaturas...